O sol que me desculpe,
mas não tinha o direito de se levantar cedo,
como que de costume.
Não tinha que se levantar.
Falo do escuro que se faz quando a vida se vai.
Penumbra, negritude, completa escuridão.
Nem pó de estrela, nem vela ou lanterna
pra iluminar o dia que acordou no luto. No susto.
Alguém morreu e paradoxalmente a vida segue lá fora.
Ônibus circulam, carros soltam fumaça,
pulmões choram a falta de ar.
Falta. Ausência. Salta essa parte ruim da história.
Sai fornada de pão na padaria.
Gente apressada atravessa a rua.
Gente atordoada atravessa a dor.
A vida continua nas esquinas, varandas, cirandas.
Por que tanto movimento
se está tudo parado aqui dentro?
O bebê chora, o telefone toca, o carteiro manda notícias.
A vida pára e anda no cortejo.
Pranto de chuva, despedida que não foi pedida,
tristeza absoluta em sol menor.
Anonymous says
Rê, para as pessoas que vivem o luto as suas palavras, certamente, são um grande consolo.
Quanta sabedoria!
Lucia
Renata Feldman says
Se estas pessoas se identificarem com o texto, Lucia, já não se sentiram tão sozinhas.
Beijos carinhosos!
Bê Sant Anna says
É como um casamento desfeito no atropelo da vida, querida Rê Feldman. Ê menina que escreve bem, gente.
Bê ijo deste muito amigo
Renata Feldman says
Atropelamento dói muito, Bê.
Quanto a escrever bem, estou indo na sua toada. Dia 17 de abril tem lançamento de livro, você já está convidado, meu amigo!
Bjs
Bê Sant Anna says
Delícia! O que precisar conte comigo! Me lembre antes pra que possa indicar no meu blog e no facebook (1500 pessoas sempre ajudam!) O meu segundo tá na esteira. Também pronto, está com a turma do design leiautando… 😉
E vamo que vamo!!! Bê ijo carinhoso em toda família!
Renata Feldman says
Agradeço demais, Bê!
E conta comigo também! Já estou com o pezinho fincado na fila dos autógrafos!
Abração!
Anonymous says
olá Renata, hoje quando acessei seu blog e vi esta mensagem postada, disse: é assim que estou, meu noivado está por um fio, podemos dizer que está na UTI, dia 11/02/12 saberei se voltaremos ou não. Dor imensa de amor, se acabar, eu pedirei ao tempo que cicatrize a ferida. Seis anos…
Renata Feldman says
Sinto muito pela sua dor, “Anônimo”… O amor também morre, e às vezes renasce com mais força, apesar de todas as feridas que deixou. Que bom que existe o tempo para cicatrizar tudo.
Muita luz para você!…
Obrigada pela visita, volte sempre.
Adriana says
Não tem nada que ilumine o dia que acordou no luto. Com susto, um dia se acorda com um toque de telefone. O sol nem tinha aparecido. E desde este dia, ele nunca mais levantou com sua luz própria. Porque uma vida foi embora. Mas a vida de quem ficou tem que seguir. Não se deve saltar a parte ruim da história. Não dá para passar por cima, porque senão isso não se resolve. É necessário chorar tudo que se tem para chorar. Senão fica tudo parado aqui dentro. E a ausência se torna um vazio sem fim. É preciso viver o luto. Senão a vida passa de liso.
Renata Feldman says
Sim, Adriana,
O luto é duro, mas precisa ser vivido. Haja força, haja serenidade, haja tudo.
Abraço carinhoso!