Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Autoestima

Você sabe dizer não?

28 March, 2019

Engraçado. “Não”  é uma das palavras que você mais ouviu na infância. “Não mexe nisso”, “não pode”, “não isso, não aquilo”.  Se lhe soa tão familiar,  tão simples e sonoro de dizer, por que é tão difícil pronunciar essas três letrinhas?

Escuto muita gente confessar essa dificuldade, tanto na clínica quanto na vida lá fora. Bem perto de mim, uma amiga querida vem tentando “largar o vício”: quase sempre (muito sempre) suas respostas giram em torno do sim. (Não tão simples assim.) Mais perto de mim ainda, minha filha é outra que se enrosca toda quando precisa dizer um não. E lá vem eu, não me canso de dizer: “Filha, é importante dizer não quando é isso o que o seu coração tem a dizer. Mesmo que você precise frustrar ou desagradar alguém, faz parte…”

Dizer não para o outro é dizer sim para você, na grande maioria das vezes. Sinal vital de autoestima, primeiro você, “escute a aeromoça”. Inversamente, quem diz sim  pra todo mundo acaba dizendo não para si mesmo. Não é justo.

Voltando à minha amiga, cada vez que ela me conta os pequenos apertos que passa ao não se posicionar como gostaria, eu retruco com um descontraído “diga não.” Repita cem vezes: “Diga não.” Entre risos e refrões, ela  me prometeu que tentaria. Pelo menos tentaria. Até que um dia a  Bella chegou em casa com o seguinte recado: “Mãe, ela mandou te dizer que não está dando muito certo esse negócio de dizer não… Foi falar com uma prima e quase perdeu a amizade…”

É. Acontece nas melhores famílias. Mas num desiste não. NÃO bem grande, ene-a-o-til.

Com toda essa saudável confabulação sobre o não, a Bella acabou aprendendo. Da “pior forma”. (…)

Era dia de cortar a unha. Ela toda espichada no sofá, preguiça absoluta, de olho vidrado na sua série favorita. A mãe com a tesourinha na mão, decidida. A menina enrolou. Resmungou. Fez charme. Rodeio. Reclamou. Negociou. Reivindicou um outro dia, uma outra hora para deixar as unhas rentes. Por fim, olhou pra mim com um olhar seguro, respirou fundo e disse em alto e bom som: “Eu digo não!”

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