Renata Feldman

Renata Feldman

Psicóloga e Escritora

Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

Valente

10 February, 2012

Um problema é sempre um problema. Agudo, crônico, universal, particular, persistente, acompanhado de uma boa caixa de analgésicos de preferência.
A lista de problemas é infindável, pra lá de problemática, passando pelos territórios do amor, saúde, dinheiro, profissão. Quando é saúde então, aí é que nos deparamos com a imensa fragilidade da vida, e de tudo o que muitas vezes não temos controle. Como diz a expressão popular, “quando se tem saúde se tem tudo. O resto a gente corre atrás.”
Problemas não são novidade para ninguém. O inédito, singular, subjetivo, é a forma como as pessoas lidam com suas inúmeras dores de cabeça. Principalmente quando é coisa séria. Quando a saúde apita, acende a luz vermelha e o coração palpita, denunciando que algo não vai bem. Quando um exame de sangue mostra que o açúcar extrapolou, ou que as artérias estão entupidas, ou que as células foram todas tomadas. Complicado assim.
Tem gente que desmancha. Desmorona. Cai no chão. Cai de cama. Perde o chão. Enlouquece. Emudece. Desaparece.
Tem gente que é valente, de uma valentia que emociona e ensina a gente. Cai. Levanta. Junta os pedaços. Cresce e aparece. Transforma medo em coragem, dor em amor, susto em serenidade, doença em cura. Quando vê, está mais inteiro do que nunca.
Aprendo todos os dias com um amigo que é assim. De tão corajoso criou um blog chamado “A Saga de Valente” (www.asagadevalente.blogspot.com) – que eu recomendo de montão por aqui nas “Outras boas pausas da vida”.
Pois é. A vida parou pro Paulinho quando ele soube que estava com câncer no rim esquerdo. E a vida continuou – ainda mais bonita – com a sua força, sua coragem, sua escrita, sua valentia, sua maneira otimista e bem-humorada de olhar para si mesmo.
A primeira frase que você lê no blog dele já diz tudo: “DAS AVENTURAS ONDE EU E VALENTE, MEU RIM DIREITO, ESTAMOS APRENDENDO A COLOCAR NO SEU DEVIDO LUGAR UM TUMOR QUE NOS LEVOU NOSSO RIM ESQUERDO.”
E por lá a gente ri. A gente chora. A gente lê lembranças, cotidiano, coisa séria, poesia sem necessariamente versos que derrama do seu amor pela mulher, pelos filhos, pelo neto, pelos amigos, pelo sítio, pela solidariedade, pela música, pela comida. A gente acha graça e se conecta com um jeito simples e ao mesmo tempo maravilhoso de viver a vida, mesmo com todos as pedras que se colocam no caminho.
O problema não é o problema. É o olhar que se coloca sobre ele. Uns enxergam pedras. Outros, montanhas. E montanhas foram feitas para transpor, sabendo que é de lá que vem o sol.

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