Semana passada Adélia Prado veio a Belo Horizonte através do Sempre Um Papo e emocionou uma plateia inteira com um simples pedido: “Eu queria que nós fizéssemos um minuto de silêncio, uma experiência de encontro conosco mesmo, e nesse minuto de silêncio eu queria que a gente pedisse pelo Brasil.”
Esse um minuto de silêncio – não só acatado como aplaudido – veio acompanhado de uma linda oração do Pai Nosso, começando de forma cantada e terminando com um emocionado apelo da nossa amada poetisa: “Olha pelo nosso Brasil!…”
Ah, Adélia, quanta força nesse seu pedido. Quanta luz e energia no seu silêncio-prece!…
Neste momento conturbado em que vivemos as palavras brigam, saltam, saem arranhadas e muitas vezes cheias de cacofonia. Precisam falar, precisam gritar, precisam despejar o que já não damos conta de compreender, muito menos aceitar.
Mas muitas vezes é no silêncio, é no movimento de olhar para dentro que descobrimos o tanto de esperança que adormece em nós, e que uma simples oração é capaz de acordar. Seja nas crises políticas ou emocionais, na correria do dia-a-dia, na reflexão de uma Sexta-feira Santa ou em meio a problemas que parecem não ter fim, um minuto de silêncio para constatar que você também é filho de Deus. Pode chorar, pode pedir, pode transformar letras confusas e ilegíveis em poesia.
Na toada de Adélia Prado, deixo aqui o meu silêncio e também um Pai Nosso que encontrei adormecido entre os meus escritos, lápis fino e folhas amareladas, já se vão anos.
Pai Nosso que estais no céu, olhai por mim.
Cuida dos meus medos para que eles não se transformem em temores, abismos, terrores sem fim.
Acende a sua luz, encontra o seu olhar protetor nos olhos meus cheios de dor.
Clareia o escuro, faz-se ponte em meu caminho.
Transforma o choro, a falta de compreensão em sinal de entendimento.
Leva embora o que não é meu, tira de mim o que eu não pedi pra viver.
Toma conta de mim, seca essas lágrimas que embaçam os olhos, me envolve no seu manto de energia purificadora e divina.
Faz do desencontro encontro. Do grito palavras que falam de amor.
Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
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