Tenho ouvido bastante a palavra medo. Bastante. Medo de todas as espécies, formatos, cheiros. MEDO. De dormir, acordar, decidir, sentir, sonhar. Medo de morrer, medo de viver, medo de ser, talvez aí uma razoável generalização de todos os medos.
Clássico e atemporal, esse sentimento paralisa, acorrenta a alma, diz não à calma; como numa turbulência em pleno voo, em que o comandante pede para apertar os cintos e quem fica apertado é o coração: espremido, desenfreado, completamente desassossegado. Uma sensação terrível de que algo escapa ao nosso controle, e que o pior está por acontecer.
Não é preciso estar dentro de um avião para viver a turbulência. Basta deixar a mente entrar numa nuvem negra e pesada, carregada de pensamentos negativos e energias densas para que o medo chacoalhe tudo. Seu mundo ainda nem caiu mas é como se faltasse pouco. Assusta o poder gigantesco que o medo tem de antecipar o que ainda não aconteceu (e talvez nem vá acontecer), mas que dentro de nós já se tornou realidade, a mais pura e catastrófica verdade. E por falar em verdade, aí vai uma boa notícia, colhida na fonte: turbulência não faz cair o avião. Apesar de ser extremamente temido e desagradável, o fenômeno é tranquilo de enfrentar, palavra de comissário de bordo e demais peritos no assunto. (Que assim seja também com as inquietudes que andam estremecendo o seu coração.)
Para turbulências em terra, há de se buscar possíveis contrapontos ao medo que por tantas vezes nos assola: coragem, confiança, força, firmeza, paz, serenidade. Amor, quem sabe? Talvez aí resida o antídoto para combater essa tormenta de sentimento que costuma fazer tanto estrago dentro da gente. Faz sentido. O amor cobre tudo, é maior que tudo, capaz de nos distrair da adrenalina que jorra do nosso sistema nervoso.
Feliz de quem tem no travesseiro um amigo, privilégio abençoado esse de dormir tranquilo. A noite inteira. Sem o peso assustador do medo, nos resta a leveza de respirar fundo e descansar os olhos nas nuvens, bem lá onde Deus mora, garanta já o seu lugar à janela.
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