
Já há algum tempo venho pensando na importância dos pontos finais. Não só em relação aos ciclos que necessariamente precisam ser fechados (bem-vindo à vida), mas também em relação aos assuntos e conversas que naturalmente deveriam ser encerrados mas ou se perdem no tempo ou adormecem no silêncio, permanecendo eternamente em aberto. Pendentes. Um conjunto de belas reticências ao invés de ponto final.
Conversas difíceis. Assuntos áridos. Diálogos espinhosos parecem ser guardados na gaveta ou enterrados antes mesmo de morrer. Desoxigenação. Deixa pra lá. Uma hora ela esquece. Muda de assunto. Shhh.
E não falo só dos assuntos difíceis que escuto diariamente no segredo das quatro paredes da sala 804.
Falo também das questões triviais, bom dia, boa tarde, oi, dormiu bem, saudade, como posso ajudar? Conversas iniciadas no WhatsApp e deixadas sem resposta. Cabeças rolando lááá pra baixo. Silêncio. Vácuo. Falta de coragem, liga, enfrentamento. Ou diriam falta de tempo? Excesso de praticidade? Já respondeu, adeus, agora não me interessa mais? Falta de cuidado, delicadeza, comunicação, empatia? Ou você é do time do check, desembola, vida que segue, página virada, missão cumprida, pingos nos is e também ao final da frase?
Seja o que for, aproveitando que hoje o mês de maio nos deixa com um belo de um ponto final, fica aqui a reflexão.
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