Depois de alguns anos ouvindo a clássica pergunta “O que você quer ser quando crescer?”, uma hora acontece: você acaba crescendo, quer queira quer não, Peter Pan. Alguns encontram rápido a resposta, outros se perdem no caminho, alguns estão pelejando até hoje. (Bota peleja nisso.)
Por mais difícil que seja se aprumar, um dia você acaba descobrindo que tem asas para voar. Descobre que o céu é o limite e que o mais importante não é exatamente o que ser quando crescer, mas ser inteiramente você: suas escolhas, seus projetos, seus sonhos e sua capacidade mais linda de realização. Como não crescer diante disso? Inevitável.
Depois de um certo tempo, alguns tropeços e muitas horas de voo, o verbo muda e nasce uma nova pergunta: “O que (ou quem) você quer ser quando envelhecer?”: a senhora que passa a tarde jogando paciência, perdendo todos os campeonatos contra si mesma? O senhor que é perito em manejar o copo e o controle-remoto, enquanto a vida derrama lá fora? Ou a escolha é por ser amigo(a) do tempo, buscando viver com leveza, alegria, emoção e sabedoria sua última porção de vida? Sim, só pra lembrar: zero a 30, 30 a 60, 60 em diante, em três grandes blocos se divide a vida. É fato. Inexoravelmente falando.
Eu, que sempre me peguei pensando no tema (ahh, quero envelhecer trabalhando, viajando, escrevendo e amando muito, quer gerundismo mais apropriado?), agora fico especialmente tocada. Estou tendo a honra e alegria de dar aula para o curso de Terceira Idade da FUMEC com a disciplina Autoestima. À minha frente, senhoras de meia e “inteira” idade, perfumadas e vistosas, algumas acompanhadas de cuidadoras, outras manejando a bengala ou cadeira de rodas; algumas já sem voz ou memória, mas com os olhos cheios de brilho por simplesmente estarem ali, fazendo anotações no caderno e no coração; senhores de cabelo branco e sensibilidade aguçada, atentos a cada troca de slide e de ideias. Independente da idade, mobilidade ou estado civil, estão todos lá cultivando uma bonita amizade com o tempo.
Uma vez por semana me encontro com esses alunos queridos (ah, como tenho aprendido…) e vejo neles a Renata que quero ser amanhã, “quando envelhecer”. Quero trocar o tempo oco, vazio (“ócio descriativo”) por aulas de autoestima, felicidade, emoção, dança, coral, talento, valores humanos, memória pra lá de afetiva.
E você? O que quer ser quando envelhecer?
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