Vida

"O que ela quer da gente é coragem"

30 May, 2016

 

coragem

Isso aqui está mais parecendo um sarau.

No último post “conversei” um bocado com Fernando Sabino (prosa pra mais de hora), hoje chamo Guimarães Rosa pra dançar.

Que coração nunca desacelerou ao som de “O correr da vida embrulha tudo”?

Um passo pra lá, outro pra cá, é tanta emoção que quase piso no pé do moço. Respira, “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

E como quer, Guimarães. A vida quer, pede, implora coragem nesses nossos tempos de medo paralisante. Pára a música, pára tudo, deixa o salão no escuro, acaba com a festa. Medo medonho.

Cheia de esperança me volto para você, querido escritor. Dois pra lá, um pra cá, me conceda a honra dessa dança.

Coragem para acender a luz. Esvaziar gavetas. Fazer as malas. Começar um trabalho novo. Mudar de cidade, estado, planeta. Saltar de pára-quedas. Arrumar a casa. Levantar da queda. Fazer aquele exame codificado por letras estranhas, letra de médico, jejum de horas que não passam. Dar o sangue, a raça, o tempo. Dar o melhor de si. Ir ao encontro dele pela primeira vez, camisa azul xadrez. Ir à luta. Sair do luto. Dizer a ela que não é mais dela (nunca foi, afinal). Pôr o pé na lua. Pular da cama quando a depressão te chama. Encarar a pilha de louça, o pneu furado, o tsunâmi. Ser quem você é, sem maquiagem ou estiagem, sorrir de alma inteira. Assistir ao noticiário. Fazer careta. Assentar na frente do terapeuta e chorar suas dores, verdades, segredos. Amar, sofrer, cair, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. A volta ao mundo, de preferência.

Ninguém te disse que seria fácil. (Olha eu aqui pisando no pé do moço pela terceira vez.) Mas se faltar coragem, lembra do amor. A palavra é pequena mas nunca reuniu tanta força, bravura e grandeza de uma só vez. Sarau perfeito.

Vai voar, vai. A música já está tocando.

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