
Quem nunca teve uma relação difícil pra contar? Um vizinho chato, sistemático, rabugento?
Fui ao cinema (feliz da vida, um dos meus programas prediletos) achando que iria assistir a uma comédia leve e divertida sobre o assunto, tão comum e clichê. Acertei.
Mas “O pior vizinho do mundo”, estrelado pelo talentoso Tom Hanks, foi muito além da leveza e da diversão. Que filme lindo. Tocante, profundo, emocionante. Saí do cinema com a alma quentinha.
Costumo dizer que algumas situações da vida são como pontas de iceberg. É o que aparece, o que se mostra; superfície, tão passível dos nossos julgamentos. Mas é lá na fundura, se mergulharmos bem, que vamos enxergar a dimensão real (e tantas vezes complexa) daquele bloco de gelo que um dia afundou o Titanic.
Otto se mostra como uma pessoa bastante difícil de conviver. A questão é que para ele é difícil (extremamente doloroso e difícil) viver depois que a sua querida Sonya se foi. É como se a morte da esposa o convocasse a ir embora também, situação não rara na vida real. (Haja terapia e constelação familiar para desmanchar os nós e emaranhados que causam tanto sofrimento, tanta paralisia.)
Fato é que a gente acaba se encantando por esse homem ranzinza, e pelo rumo que a vida dele vai tomando especialmente depois que uma família cheia de energia se muda para a casa em frente. (Em frente, que é para onde a vida deve andar.)
Não vou dar spoiler. Mas há uma frase de Sonya (nas tantas voltas ao passado que Otto faz através da memória e do pensamento) que é um prato cheio pra nós da psicologia, no que concerne a nomear sentimentos e cultivar a resiliência: “Eu sei que você está triste. E com raiva também. Mas temos que continuar a viver.”
Outra preciosidade do filme é quando Otto percebe que se importam com ele, e isso passa a fazer toda a diferença no desenrolar da história: na forma como ele também passa a se importar com o outro e com a própria vida.
Quanta beleza permeia as relações humanas, não me canso de dizer. Dá vontade de ser vizinha dele também. Ou de uma vez por semana abrir a porta da sala 804 e um sorriso, e lhe oferecer: “Água, café, chá, cappuccino?”.
Foi uma linda sessão de 120 minutos, Otto. Obrigada por confirmar algumas coisas tão importantes que carrego comigo.
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