Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

"O pior vizinho do mundo"

29 January, 2023

Quem nunca teve uma relação difícil pra contar? Um vizinho chato, sistemático, rabugento?

Fui ao cinema (feliz da vida, um dos meus programas prediletos) achando que iria assistir a uma comédia leve e divertida sobre o assunto, tão comum e clichê. Acertei.

Mas “O pior vizinho do mundo”, estrelado pelo talentoso Tom Hanks, foi muito além da leveza e da diversão. Que filme lindo. Tocante, profundo, emocionante. Saí do cinema com a alma quentinha.

Costumo dizer que algumas situações da vida são como pontas de iceberg. É o que aparece, o que se mostra; superfície, tão passível dos nossos julgamentos. Mas é lá na fundura, se mergulharmos bem, que vamos enxergar a dimensão real (e tantas vezes complexa) daquele bloco de gelo que um dia afundou o Titanic.

Otto se mostra como uma pessoa bastante difícil de conviver. A questão é que para ele é difícil (extremamente doloroso e difícil) viver depois que a sua querida Sonya se foi. É como se a morte da esposa o convocasse a ir embora também, situação não rara na vida real. (Haja terapia e constelação familiar para desmanchar os nós e emaranhados que causam tanto sofrimento, tanta paralisia.)

Fato é que a gente acaba se encantando por esse homem ranzinza, e pelo rumo que a vida dele vai tomando especialmente depois que uma família cheia de energia se muda para a casa em frente. (Em frente, que é para onde a vida deve andar.)

Não vou dar spoiler. Mas há uma frase de Sonya (nas tantas voltas ao passado que Otto faz através da memória e do pensamento) que é um prato cheio pra nós da psicologia, no que concerne a nomear sentimentos e cultivar a resiliência: “Eu sei que você está triste. E com raiva também. Mas temos que continuar a viver.”

Outra preciosidade do filme é quando Otto percebe que se importam com ele, e isso passa a fazer toda a diferença no desenrolar da história: na forma como ele também passa a se importar com o outro e com a própria vida.

Quanta beleza permeia as relações humanas, não me canso de dizer. Dá vontade de ser vizinha dele também. Ou de uma vez por semana abrir a porta da sala 804 e um sorriso, e lhe oferecer: “Água, café, chá, cappuccino?”.

Foi uma linda sessão de 120 minutos, Otto. Obrigada por confirmar algumas coisas tão importantes que carrego comigo.

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