Sempre tirei o chapéu para os corajosos desbravadores que um dia decidiram abrir uma empresa e fizeram dar certo. Não falo apenas em números, cifras ou ranking de mercado. Falo da empresa que tem do outro lado do balcão um consumidor feliz da vida pela relação estabelecida. Que seja uma padaria, uma floricultura ou companhia aérea, nada melhor que um cliente satisfeito, garantem os especialistas em marketing.
No frigir dos ovos, estamos falando de gente, um dos meus assuntos prediletos. De um lado do balcão, gente que acreditou, sonhou, trabalhou muito para que tudo desse certo; do outro lado, gente encantada com o que recebeu em troca; gente que pede, repete e fala bem da marca para os quatro cantos do mundo. Isso é que é case de sucesso.
Se falar de pão, flor e avião já dá assunto pra mais de hora, imagina quando o assunto é hospital. De um lado o doutor, a anestesia, o soro, a frequência cardíaca; de outro o paciente, a dor, a queda de pressão, o alívio da alta.
Vivi bem de perto esta relação na quarta-feira passada. A paciente, eu. O hospital, Biocor (faço questão da propaganda). O motivo, um cisto no ovário, herança familiar que já premiou quatro mulheres da minha doce linhagem materna – avó, mãe, irmã, prima e agora eu, não podia ficar de fora.
É claro que a gente fica fragilizada. Se é de carne e osso vai sentir dor, medo, susto, especialmente quando lê o termo de consentimento da anestesia. Pior do que bula de remédio. Até a gente entender que faz parte, que a herança é bem-vinda, que os médicos fazem isso de olhos fechados e que a videolaparoscopia foi a melhor invenção dos últimos tempos.
Mas melhor do que a técnica e competência da equipe foi o atendimento acolhedor, humano e afetivo que recebi por lá. Enfermeiras sorridentes, cuidadosas, educadas. Tinha uma com um humor digno de “doutores da alegria”, uma graça só.
– Me faz rir não, Gislene, minha barriga vai doer.
Comentando com a minha mãe da nobreza do atendimento, ela falou que só podia ser coisa do dono. (O famoso olho do dono, nesse caso coração melhor se aplicaria.)
– Isso é o Doutor Mário, minha filha, que há anos cumpre o ritual de rodar o hospital inteiro, indo de quarto em quarto só para dizer umas poucas palavras:
– Paz e alegria!
Não demorou muito bateram na porta do apartamento 730.
Era o próprio, com a melhor cara do mundo, sorriso iluminando o rosto. Abriu e fechou a porta em menos de dois minutos, mas disse o essencial:
– Muita luz para vocês! Está faltando alguma coisa?
– Nada não, Dr. Mário, só um ovário…
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