As Olimpíadas se despedem, deixando pra nós suas medalhas, batalhas, abraços, percalços.
Volto ao dia da abertura: luzes, efeitos, cores, coreografias, músicas e – pra completar (pra brilhar os olhos e paralisar todos os músculos faciais) – os passos majestosos da nossa garota de Ipanema, “poetizando seu balançado e fazendo o mundo inteirinho se encher de graça”.
Não sei você, mas dentro de mim percebi transmutar sentimentos de descrença, receio e vergonha em orgulho. É como se, naquele instante, todos os brasileiros sentissem uma medalha de ouro ser colocada no peito. “Levantamento de autoestima”, ouvi muitos dizerem.
No decorrer do grande evento, cenas bonitas, marcantes, doídas, muito além da técnica e fortemente vinculadas à emoção. Michael Phelps beijando o filho, Yohann Diniz passando mal em plena marcha atlética, o tenista Djokovic deixando a quadra chorando, “em uma das derrotas mais duras da sua vida”.
E foi justamente uma derrota que me inspirou a escrever este post: a do nadador brasileiro Bruno Fratus, que ficou em sexto lugar e foi abordado por uma repórter assim que saiu da piscina. Diante da pergunta redundante: “Está chateado?”, o atleta respondeu com ironia: “Não, estou felizão, né?”.
Fazendo prevalecer a emoção sobre a razão (atletas também são filhos de Deus, especialmente sob efeito de adrenalina), Bruno foi reativo para depois ponderar sua resposta e de alguma reforma se refazer. Procurou a repórter, pediu desculpas, disse que estava de cabeça quente. Terminou agradecendo todo o apoio que recebeu, dizendo o mais importante: “deixei tudo na água hoje”.
Em outras palavras, nosso nadador deixou o corpo, a alma, o melhor de si dentro da piscina. Essa constatação vale ouro, vale o esforço, vale a dignidade de perder a batalha sem se perder de si.
Terminam as olimpíadas, a vida continua. Amanhã cedo tem levantamento da cama, ginástica prum dia inteiro, trabalho sincronizado, saltos ornamentais, maratona suada, tiro de um leão por dia. A luta não é fácil não, mas a emoção de cada vitória – com todos os obstáculos do caminho – se transforma em prece de gratidão ao fim do dia.
E você? O que está deixando de melhor na sua vida?
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