Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

"No fim dá certo"

19 May, 2016

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Sábio Sabino. Deixou de herança pra nós um pensamento que carrego sempre comigo, quase uma carteira de habilitação pra dirigir essa estrada enorme que chamamos de vida: “No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.”

Mas esse “fim” não podia vir logo ali?, alguém sempre pergunta. E como pergunta. A ansiedade derrama quando o assunto é a festa de aniversário, a prova do mestrado, o fechamento da loja,  a venda do apartamento, o resultado da tomografia, a apresentação de dança, a entrevista de emprego, o casamento na praia, a fertilização in vitro, a família do intercâmbio, a inauguração do restaurante,  o cuidador da mãe, o “passeeeeeei” no concurso, as agruras e mais agruras de quem vive de sonho, esperança e labuta.

Não, infelizmente não tenho bola de cristal. Juro que adoraria ter. Mas tenho comigo que Sabino estava certo, e levo essa certeza comigo. Tente se lembrar de um dos vários momentos da sua vida em que a dor de barriga, a tensão muscular e as unhas roídas deram lugar a um ok de todo tamanho no fim da história. Lembrou?

Gastamos muito tempo e energia roendo as unhas, acelerando o pensamento, espremendo o coração. E assim vamos desviando o foco do sim para o não, da coragem para o medo, da fé para a descrença, da realização para o boicote.

Ok, nem sempre as coisas vão acontecer do jeito que você gostaria. Entre o ideal e o real há uma distância imensa, às vezes um abismo inteiro. Mas que o pé no chão é possível de ser trilhado, ah isso é. E, se por acaso não der certo, chama o Sabino de novo: “Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

E depois de se encontrar com ele, encharca a alma de poesia e experimenta mudar a rota, acreditar em estrelas, sonhar de olhos abertos, fazer dar certo o que é possível. O fim é logo ali.

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