Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Autoestima

Mulher de 40

11 April, 2016

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Algumas mulheres não gostam de contar a idade que têm. Contam casos, sapatos, contam os dias mas não contam a verdade que vai estampada no seu RG.

Já algumas mulheres têm 40 anos e muita – muita emoção pra contar. A emoção de ter encontrado o seu próprio amor. (E quando digo “seu próprio amor” estou me referindo ao amor-primeiro, amor-oxigênio, prioridade, inteiro, que algumas mulheres deixam lá no fim da fila ou esquecido num banco de praça qualquer.) A emoção de saber quem se é, de dizer o que se quer, sem rodeios ou silêncios improdutivos. A emoção de reconhecer que se caminhou muito para chegar até aqui, apesar de todas as pedras no caminho, e – boa notícia: com atestado de sobrevivência, sã e salvas, inteiras.

Mulheres de 40 costumam dar uma repaginada no próprio sofrimento. Colocam outro olhar na dor, não choram mais pelos motivos de tempos atrás.  Picuinhas, ladainhas, blablablás e mimimis dão lugar a saudáveis e interessantes conversas internas – e consequentemente com o mundo que as cerca. E são justamente essas conversas que parecem deixar a mulher de 40 mais bonita, mais bem-resolvida e cheia de graça, apesar dos sinais que o tempo insiste em enviar, pedindo como resposta apenas um sim. (Aceita?)

Algumas dão peso extra aos quarenta, transformando-o  em quase mito, amargo rito, pula esse “desaniversário” pelamordeDeus.  Acabam se colocando de quarentena, castigo, como se fazer 40 anos fosse doença. Outras, por outro lado, elegem a leveza para significar cada ruga, cada rusga, tudo que se conquistou e também o que não se conquistou. Sabem que a vida não é perfeita e é feita de dois lados. Buscam, sempre que podem, viver o melhor deles. E dá-lhe carpe diem que a vida é curta e merece ser vivida. Ô, se merece.

Adeus óculos cor-de-rosa, deslumbres rasos, traumas de infância, contos da carochinha. A mulher de 40 não se contenta com pouco e quer sempre mais da vida. (Onde se vê “mais” leia-se amor, realização, plenitude, autenticidade, segurança, emoção, alegria. Sem deixar de ser dona de si nem por um segundo.)

E chega de cobrar, comparar, se amuar diante dos acontecimentos que não estavam no script. “Se não estavam deve haver algum sentido, aceita que dói menos”, é o que costumam compartilhar amigas reunidas em um café. Açúcar ou adoçante? Riso, endorfina, colheres cheias de cumplicidade, bem-vinda ao clube.  E como são produtivos esses encontros…. Deveriam ser religiosos, sagrados, prioridade absoluta nessa sua agenda tão cheia.

Algumas correm contra o relógio biológico. Não sabem se esperam, se congelam ou se desmancham seus sonhos. Algumas correm contra o relógio da cabeceira, da academia, do ponto, da escola dos filhos, da reunião que não espera, do supermercado que está quase fechando, do sinal que já vai abrir. Corre, ginasticaliza o dia, respira, olha pra dentro, medita. A mulher de 40 não quer perder o sol que se põe na alma, nem as estrelas que de olhos fechados se permite contar, em noites de amor indizíveis. (Nem o melhor tradutor intérprete seria capaz de decifrar.)

E de novo amanhece, enternece, lá vai a mulher de 40 correr com os lobos, se distanciando cada vez mais dos cativeiros que a abrigaram um dia.

Sua identidade? Felicidade, rima tão bonita.

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