Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

MP o quê?

12 January, 2014


Enfim, férias. Escolha o destino, arrume as malas e bye-bye rotina.
Olha o picolé! Olha o queijinho assado na brasa! Camarão no capricho, tá servido? Água de coco gelada, sombra e água fresca, quem vai querer?
Eu quero. Ah, meu Deus, como eu mereço. Estender a canga na areia, pensar em nada, grudar no meu livro da Martha Medeiros e ouvir o barulhinho do mar.
Barulhinho do mar tá em falta. A música da barraca tá alta, um tchê tchererê só.
– Ô, amigo, pra essa sua barraca ficar perfeita, tinha que ter uma MPB…
– MP o quê?
E assim caminha a nossa querida música popular brasileira. Sem voz, ruidosamente abafada pelo animado ritmo do sertanejo universitário, funk ostentação e outras baladas mais.
Longe de mim cortar o barato de quem adora um tchu, um tcha, dependendo da dose e do momento vá lá.
Mas só isso? O tempo todo? No último grau? Acho que estou ficando velha.
Tudo por uma Marisa Monte, um Djavan, um Chico Buarque ensolarando ainda mais o meu verão.
“E por falar em saudade”, onde anda Rita Lee, Caetano, Gilberto Gil?
Fecho os olhos e escuto, na minha imaginação nostálgica, Legião, Engenheiros, Paralamas. Isso é que é parada do sucesso. E num volume decente, que é pra não atrapalhar a música que vem do mar.
Abro os olhos e vejo minha filha batendo a mãozinha debaixo do queixo e cantarolando “Você vai ficar ba-ban-do.” Começa outra música no talo e me lembro de uma sobrinha que daria tudo para estar aqui requebrando no mesmo ritmo. (Acho que ela não vai gostar nada deste post.)
Comento o assunto com o meu marido, digo que vou escrever sobre isso no blog. Ele diz que estou coberta de razão mas música não se discute, cada um na sua, por ele a barraca só tocava o hino do Galo.
E já que rir é o melhor remédio (vitamina “R” na veia, desopila o fígado e faz bem ao coração), vamos que vamos. Apelidei o moço da barraca de deejay e disse a ele que vim de longe pra comer o melhor peroá com farofa do mundo, mas com fundo musical à altura.
O danado é esforçado e não quer perder a freguesia, deu seu jeito e fez o melhor que podia: botou a Paula Fernandes pra tocar.

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