Há quem feche os olhos e não consiga dormir.
Há quem feche os olhos para nunca mais acordar.
Dormiu fora de casa. A casa desmoronou. Vidas enterradas, negligência enlameada, o rio que era doce salgado de choro virou.
Foi a um show de rock. A música acabou. Tocaram sirene de ambulância, vazio de melodia.
Pausa no estádio de futebol. Explosão de consternação. Falta de chão.
Intensifiquem as buscas, fechem as fronteiras, chamem os especialistas: engenheiros de barragem, cientistas políticos, professores de relações internacionais. (Ais e mais ais.) Convoquem uma reunião extraordinária com Deus.
Afora as grandes tragédias, dores particulares também não conseguem dormir. A mãe doente. O casamento desfeito. O olho da rua. A angústia nua e crua.
Doutor, um tranquilizante por favor. Para adormecer a família que despedaçou. Curar dor de cabeça. Calar travesseiro prolixo. Jogar o indizível no lixo. Transformar decepção em perdão. (Te prometo não.)
Posição de ioga, faz meditação, entoa uma prece de paz. Pra irrigar de amor o fundo do poço. Restaurar o sonho quebrado. Acender luz onde a escuridão mete medo.
Acende o abajur. “Bonjour, tristesse.”
O sol já vai acordar. Ainda é cedo.
Remédio pra pesadelo, doutor.
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