Vida

Insônia

13 November, 2015

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Há quem feche os olhos e não consiga dormir.

Há quem feche os olhos para nunca mais acordar.

Dormiu fora de casa. A casa desmoronou. Vidas enterradas, negligência enlameada, o rio que era doce salgado de choro virou.

Foi a um show de rock. A música acabou. Tocaram sirene de ambulância, vazio de melodia.

Pausa no estádio de futebol. Explosão de consternação. Falta de chão.

Intensifiquem as buscas, fechem as fronteiras, chamem os especialistas: engenheiros de barragem, cientistas políticos, professores de relações internacionais. (Ais e mais ais.) Convoquem uma reunião extraordinária com Deus.

Afora as grandes tragédias, dores particulares também não conseguem dormir. A mãe doente. O casamento desfeito. O olho da rua. A angústia nua e crua.

Doutor, um tranquilizante por favor. Para adormecer a família que despedaçou. Curar dor de cabeça.  Calar travesseiro prolixo. Jogar o indizível no lixo. Transformar decepção em perdão. (Te prometo não.)

Posição de ioga, faz meditação, entoa uma prece de paz. Pra irrigar de amor o fundo do poço. Restaurar o sonho quebrado. Acender luz onde a escuridão mete medo.

Acende o abajur. “Bonjour, tristesse.”

O sol já vai acordar. Ainda é cedo.

Remédio pra pesadelo, doutor.

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