Semana passada tive o prazer de participar de uma entrevista de estúdio no MGTV sobre “Pessimismo”.
Como os cinco minutos da programação não foram suficientes para esgotar o assunto, resolvi espichar por aqui um pouco dessa clássica história do copo “meio cheio meio vazio”, fonte de sabor ou dissabor na vida de muita gente.
Mais uma vez, a conversa é sobre esse seu olhar. Que diante dos fatos, tão universalmente fatos, enxerga possibilidade ou recusa, preenchimento ou vazio, sim ou não. “Diga o que pensas e te direi quem és”.
Quem é você diante do trabalho suado, do amor que anda em falta, do tempo fechado? (Em tempos de Cantareira não seria má ideia, abram as sombrinhas, até um bom pessimista mudaria de posição.)
Quem é você diante das mudanças, dos tropeços, das andanças tantas vezes desencontradas? (Vitória ou derrota, onde é que você se segura?)
Pensamento faz nascer sentimento, simples assim. A cabeça pensa que vai dar errado, o coração sente tudo menos alegria. A cabeça pensa que aquele concurso não vai dar em nada, o coração desanima. A cabeça fica dura de tanto pensar no pior, o coração se sente um tanto menor. Só.
Pessimismo é marca de nascença, revelam as últimas pesquisas sobre o assunto. Mas isso não é desculpa para você levar uma vida inteira em preto e branco (o que, para muitos atleticanos é sinal de raça, torcida, emoção, alegria. (…) De novo o olhar, esse nosso olhar que muda tudo).
O pessimismo anda junto do stress e da ansiedade, valoriza o remoer das memórias negativas e faz sofrer um bocado. Nos otimistas o nível de cortisol (hormônio do stress) é mais estável, e eles comprovadamente vivem mais. O que não falta é esperança, bom humor , leveza. Andar na chuva como se fosse o sol que estivesse brilhando. Ou dançar na chuva, você escolhe, “I´m singing in the rain”.
O pessimista esmorece antes da hora, vive o negativo por antecipação, acaba sofrendo duas vezes quando a notícia realmente é ruim. O otimista concentra energia no melhor que há por vir, sofrendo apenas uma vez se tiver que sofrer. Se. Questão matemática.
E ainda tem a força da profecia autocumprida: o pessimista jura de pé junto que a festa vai ser horrível. Por mais que a música esteja ótima, a comida farta e gente bonita, ele não dá o braço a torcer e acaba encontrando um motivo para confirmar sua crença tão fortemente ancorada no negativo. A música estava boa mas a cerveja quente, mais que o suficiente para ir embora. E à francesa, diga-se de passagem.
Mas pior do que enxergar com pessimismo a política, a economia, a meteorologia e tantas ias – coisas que vem de fora – é enxergar com peso e escuridão a si mesmo. Tem gente que briga com o espelho, tranca a alma no sótão e não quer saber de fazer as pazes. Pobre auto-estima.
Linda a metáfora de Santo Agostinho capaz de resumir essa ópera: “Dois homens olham através das grades da prisão; um vê a lama, o outro as estrelas.”
E com um céu prateado, por vezes nublado, a vida nos convida a transformar, a labutar a partir dos olhos que só enxergam cinza. Assim é feito o convite, só nos resta aceitar.
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