Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

Gosto amargo

02 October, 2014

 

18_Jilo_ok11951morango

Quando você vê já foi. Falou o que não devia, saiu do eixo, amargou boas palavras na boca, o suficiente para azedar seu dia.

Vai um pouquinho de jiló aí? Meia-dúzia de limão capeta? Ou prefere uma lambreta, pra sumir de vez por esse mundão afora? Que fora.

Não perdeu nada por ficar calado, é o que diria a sua avó.

Agora já era. Ainda não inventaram o “verboshop”, sinto lhe dizer.  Não tem jeito de consertar, voltar a fita, retocar o borrado. Borrou.

Mas também não vai adiantar ficar aí chorando sobre o leite derramado.  Jiló, leite, limão, essa mistura não tá nada boa.

#prontofalou, fazer o quê?

Faz nada. Só pensa, matuta, espera, vê de longe o tamanho do estrago e lembra que você também é filho de Deus. Pra lá de imperfeito.

Por algum motivo você precisava pôr pra fora. Desabafar. Expurgar. Chorar o que andava doendo aí dentro. De repente foi sua sombra que resolveu dar uma voltinha lá fora. Ou vai me dizer que você é só sol o tempo todo? Tem direito a  relâmpagos e rajadas de vento também.

Aproveita o calor e esfria a cabeça. Toma uma ducha gelada. Um mergulho em alto-mar. Um balde cheio de gelo. Chicletinho da hora pra tirar esse gosto amargo da boca.

Se o “desastre” valeu um cadinho de reflexão e aprendizado pra alguma coisa, tá valendo. Tá crescendo. A melhor parte é perceber que no dia seguinte tudo pode ser diferente, se você quiser.

Vai lá e pede colo, arrego, perdão. Ou não faz nada disso, se não achar que deve. Mas mostra pelo seu olhar o tanto de amor que carrega aí dentro – um amor que vale mais do que mil palavras, mesmo as mais amargas e indigestas.

Pega o leite que não derramou, mergulha em morangos frescos, bate no liquidificador e prepara aquela vitamina.

Que esta seja a sua sina.

Compartilhar este post

Posts Relacionados

Doce alquimiavida

Doce alquimia

Incrível a doce alquimia da vida. O dom de transformar leite condensado em brigadeiro. Farinha de trigo em Challah. Espera prolongada em Beta hCG positivo. Colo em passos de dança. Semente em flor. Dia-a-dia em alegria. E assim a gente vai transformando picolé em palito premiado. Contos de fadas em "Friends", "Amor e gelato", "Gossip Girls". Escola em faculdade. Aconchego em saudade. Amor em história. História em continuidade. A gente vai virando a folhinha do calendário e percebendo que o tem

1 de nov. de 2025Ler mais →
Foi-sevida

Foi-se

Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na

1 de set. de 2025Ler mais →
Carta à Clarice Lispectoremoção

Carta à Clarice Lispector

Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage

13 de out. de 2025Ler mais →

Comentários

Seja o primeiro a comentar!