Tem uma coisa danada de linda chamada coerência. Tão linda que poderia ser uma ciência, Prêmio Nobel da Paz para quem costuma alinhar pensamento, crença, sentimento e vontade com algo muito simples (às vezes não tão simples) chamado ação. (Conhece?)
De nada adianta encher a cabeça de ideias, planos, filosofias. Ou abarrotar o coração de fé se não se firma o pé na tábua. De nada adianta morrer de vontade de encontrar os amigos, marcar um rapel, chamar aquela moça bonita pra sair e “morrer na praia”. Liga pra ela logo, vai.
Quantos sonhos vão parar na gaveta porque não foram levados adiante? Quantas promessas se esvaziam, quantos discursos evaporam como perfume lançado ao chão? (Quebra, nosso querido povo brasileiro que o diga.) Quantos rascunhos, esboços, boas intenções envelheceram sem você nem perceber? (Ou você percebeu e resolveu deixar por isso mesmo, como a resolução mais frustrante e “desimportante” da sua vida?)
“Ser ou não ser”, meu caro Hamlet, eis a boa e velha questão de sempre. Ser de verdade, ser inteiro, afinando o coração com a música que você quer ouvir tocar. Não dá pra dançar forró ao som de Vivaldi. Ou meditar ouvindo um rock no último volume. Ou trocar “Palavra Cantada” por funk na festinha de aniversário do seu filho. (Absolutamente não dá.)
E também não dá pra ficar só na fala, só no blablablá. Às vezes é muito “da boca pra fora” e pouco “do coração pra dentro”. Sente?
Para um pouco, silencia e pensa, se escute. Quais os arranjos você anda fazendo na sua vida? Como anda a sua sintonia com o mundo? Compasso ou descompasso? Marcha à ré ou um passinho à frente, por favor? Mais amor, meu caro, mais amor. Primeiramente por você mesmo, é o que recomenda a aeromoça em caso de despressurização. Autoestima nunca esteve tão em voga, nunca saiu de moda. Suas escolhas, suas relações, seus pontos de mutação e ação – tudo isso diz muito a seu respeito; pertence a você, e se pertence tem que tomar conta.
Então vá, chame a coerência pra te acompanhar. Dançar um tango ali na esquina, quem sabe? Passar naquele concurso que já passou da hora. Fazer aquela torta de limão prometida pra filha, sem demora. Levar o namorado pro altar, é pra já. Obedecer a voz que vem do coração. (Acredite, na maioria das vezes é ele quem tem razão.)
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