Algumas coisas são extremamente comuns, mas causam um efeito especial na vida da gente: o nascimento de um filho; a possibilidade de respirar, ouvir, enxergar; o tanto infinito de amor que vem da família; o primeiro dia de aula; uma amizade verdadeira; um pedido sincero de desculpas; uma sessão de cinema pra fazer a gente pensar, chorar, sentir, amar: esse foi o efeito que “Extraordinário” causou em mim.
O filme nos coloca frente a frente com Auggie, um menino de 10 anos que tem o rosto deformado (sequela de uma síndrome genética) e a incumbência de enfrentar a escola pela primeira vez. Na sua singularidade, ele aprende – não sem angústia ou sofrimento – a se colocar no mundo, exatamente do jeito que é – com todas as marcas que carrega na face e no coração, depois de 27 cirurgias realizadas. Aprende que não adianta se esconder em um capacete de astronauta, mas que é possível flutuar de alegria a cada superação vivida. E assim ele faz. (Flutuamos nós também.)
Com esse belo ensejo de se pensar as diferenças, o filme nos convida a pensar também sobre tantas outras questões que impactam a vida da gente: crueldade (as crianças sabem bem como fazer isso), gentileza, bondade, compaixão, amor, família, aceitação, amizade. E mostra que toda história tem sempre dois lados, muitos capítulos e várias versões do mesmo fato; nós é que às vezes julgamos demais, “legendamos” demais.
“Extraordinário” registra, com emoção e delicadeza, alguns pedidos simples de se fazer: “quero um irmãozinho”; “quero voltar a ser seu amigo”; “quero um dia inteiro só com a minha mãe”. E por falar em mãe, como elas sofrem. Por amarem tanto, por se dedicarem tanto, por saberem que nem tudo está no seu controle, nas suas mãos.
E foi assim, Auggie, que por duas horas eu entrei na sua vida. Ao final do filme, quem estava com o rosto deformado era eu, de tanto chorar. Você me encantou tanto, mas tanto, que conseguiu transformar estranheza em familiaridade; feio em bonito, confirmando que o amor é o sentimento mais extraordinário que a gente pode sentir nessa vida.
Vai assistir e depois me conta. Mas só um alerta: é bem provável que você acabe confundindo ficção com realidade e saia do cinema querendo levar o Auggie pra casa. Eu levei.
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