Ganhou flores pela primeira vez aos treze anos. Do pai. (Parodiando uma clássica propaganda de sutiã, “a primeira menstruação a gente nunca esquece”.)
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Levanta cedo, perfuma a casa de café, prepara a merenda dos filhos, colhe alecrim para saborizar a água e aliviar os hormônios já cansados, se rende ao relógio, sai correndo. Feliz. Ou, na versão de Chico Buarque, “Todo dia ela faz tudo sempre igual; me sacode às seis horas da manhã; me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar e essas coisas que diz toda mulher; diz que está me esperando pro jantar e me beija com a boca de café”.
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Bate ponto, mostra a cara, dá o sangue, brilha os olhos, trabalha a mil por hora, medita pra acalmar a alma, faz um chá de camomila pra entrar no sono REM, sonhar com o bem.
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Cuida do seu jardim, arranca os espinhos, aduba a terra, faz florescer uma vida inteira apesar das erosões no caminho.
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Dá à luz, acolhe o escuro, dá colo, pede colo, alguns anos de terapia pra entender que a maternidade é a coisa mais maravilhosa que existe e a coisa mais difícil também.
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Chora, silencia, grita, eterniza a sua dor sem já saber mais o que é amor. Vira notícia, viraliza o que não pediu pra viver, reúne forças, manda flores pro seu próprio destino.
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Envelhece, enternece, morre de amor por cada ruga sabendo a história que cada ruga tem. Ri pra vida, endireita a coluna, conversa com o tempo e acena pra morte sabendo que ela é certa, sempre vem.
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Short cuts, long stories, mulheres que enchem de vida a vida da gente. A elas nosso respeito e homenagem sempre, diariamente, especialmente nesse 8 de março, como bem lembra o calendário.
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