Fechou a janela, tomou ar, foi se olhar no espelho. Vidro trincado, nudez revelada, algo se quebrara dentro dela.
Não se reconheceu ali, parada, ensimesmada, sem saber o que pensar a seu próprio respeito.
Chorou. Derramou sua dor sem música ou silêncio, sem maquiagem ou coragem, apenas chorou. Até embaçar o vidro.
“Espelho, espelho meu”, nem sequer te sinto como meu. Não me aproprio de mim mesma, muito menos de você, pare logo com essa mania de me plagiar.
Tudo o que ela queria era se olhar no espelho e parar de brigar com ele. Fazer as pazes, fazer graça, rir de si mesma um riso solto. Ajeitar o lado de fora porque o de dentro, só lamento.
Queria abrir um sorriso mas a alma estava fechada pra balanço. Ranço.
Ferida, moída, doía de tanto pensar. Sobrevivente de uma semente que não deu flor, catou o cobertor e tomou um copo de leite. Fome. Sede. Inanição.
“Espelho, espelho meu”, há neste mundo alguém mais triste
do que eu?”
Socorro, desse jeito eu morro. Chama a fada do dente, do cabelo, do coração, do corpo todo. Chama, urgente, um tanto de amor pra curar essa estima que caiu doente.
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