Se tem uma coisa bonita nessa vida – pra lá de bonita – se chama emoção. Dessas que vêm sem a gente pedir, sem marcar hora ou nada insistir. Simplesmente vem. Simplesmente brota, nasce, rompendo com a aridez desse nosso mundo denso e estranho.
Nada de cisco no olho, gripezinha, resfriado. Nada de engolir esse choro que acordou bem-disposto. Deixa vir. Deixa fluir o que ficou aí guardado, escondido, engaiolado, contido. Emoção combina com autenticidade, carece de ser livre. Pode saltar das páginas de um livro. De uma mensagem de WhatsApp. De um chorinho forte na maternidade. De uns olhos encontrando outros olhos. De uma notícia boa. De um momento que não volta mais. (Quem disse que não volta?) De uma lembrança guardada com cadeado. De um insight na terapia. De uma frase que você não esperava ouvir. De um abraço que resume tudo. Da cena de um filme. De um filme rodando uma vida inteira.
Para se emocionar não tem que pagar pedágio, enfrentar fila, fazer inscrição de coisa alguma. Tem apenas que chamar o coração pra uma conversinha bem ali ao pé do ouvido, onde se aconchegam silêncios e palavras. Tem apenas que amar o inusitado, o lugar-incomum, a simplicidade que nos toca. Música, dança, esperança. Acreditar que esse mundo ainda tem jeito.
Chorar é carta de alforria, encontro casual com você mesmo. “Oi, tudo bem? Quanto tempo!…” É lembrar que tem alguém aí. Ô, se tem.
Em um mundo tão racional e ligado no automático, a gente tem que se permitir um cadinho de emoção para lubrificar os olhos e dar um trato na alma – ela também precisa de um banhozinho de vez em quando. De vez em sempre, talvez.
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