Renata Feldman

Renata Feldman

Psicóloga e Escritora

Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
vida

Diga a ela para ficar

04 September, 2014

TEMPESTADE

Se o gênio da lâmpada aparecesse  na sua frente, o que você iria pedir? Três desejos, pense rápido, este pode ser seu dia de glória.

Um namorado? Um emprego novo? Uma viagem sem volta para a Toscana? Um carro, um barco à vela, um cargo de presidente? Um filho, um cachorro, um cartão premiado ?

E se você me disser: não, Renata, eu quero tão menos, tão pouco, tão abstrato. Quero um pouco de paz para dormir tranquilo; um tanto de amor para encher os olhos de estrelas. Quero regar meu coração de alegria, leveza, entusiasmo, harmonia, essas coisas simples e ao mesmo tempo tão preciosas.

Nobreza linda essa que envolve os sentimentos da gente. De uma boniteza só.

E aí alguém te lembra que gênios da lâmpada já não aparecem há muito tempo, a não ser nas histórias de Aladim. E que sejam os seus desejos simples ou grandiosos, há de se batalhar por eles. Deixar de sonhar nunca e – enquanto se sonha, labutar para ver a realização acontecer. Uma hora ela acontece, pode acreditar.

Vejo pessoas chorando de 50 em 50 minutos à minha frente. Mas também vejo pessoas sorrindo, que a duras penas (eu é que sei) transmutaram dor em felicidade, essa palavra tão difícil de definir e simples de sentir.  Sem lâmpada empoeirada ou ilusões rasas foram à luta, fizeram seu dever de casa, olharam para dentro sem medo do que iriam encontrar. E olha que viram de tudo um pouco – monstros, fantasmas, minhocas em cativeiro, abismos e despenhadeiros, traumas de infância, imensos vazios existenciais. Parece ficção científica mas é vida, simplesmente essa nossa vida, corajosos daqueles que olham pra dentro. Só assim a gente consegue esvaziar as gavetas entulhadas, lavar a alma e seguir em frente dando as mãos para a transformação que gentilmente nos convida a caminhar. Mais leves, mais plenos, mais inteiros e donos de si. Sim.

Paradoxalmente, as mesmas pessoas que vejo  sorrindo por terem finalmente aprendido a lidar com os seus conflitos, costumam ainda temer que a felicidade lhes escape, que amanhã bem cedo sejam surpreendidas por uma notícia ruim, um abalo sísmico qualquer. Parecem inverter o  ditado, acreditando que depois da bonança é que vem a tempestade.

Não, meu caro. Depois da bonança vem a confiança, a gratidão, a emoção de merecer cada gota de felicidade. Pode até ser que o tempo mude, não sei. A vida é feita de ciclos, não há garantia de tempo bom o tempo todo. Mas não é porque você conquistou um lugar ao sol que ele tem que ir embora, logo agora.

Quando a realização chegar, é hora de acolher com delicadeza cada um dos sentimentos nobres que o seu coração pediu lá em cima, apropriando-se com alegria de cada um deles. Sem medo de perder o que você custou a ganhar. Sem alimentar as minhocas que insistem em deslizar na sua cabeça, espaçosamente.

Quando a felicidade aconchegadamente se aninhar, diga a ela para ficar.

Compartilhar este post

Posts Relacionados

Foi-sevida

Foi-se

Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na

1 de set. de 2025Ler mais →
Carta à Clarice Lispectoremoção

Carta à Clarice Lispector

Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage

13 de out. de 2025Ler mais →
Estou aqui.cinema

Estou aqui.

Sim, eu sei. Perdi o timing. Me perdi em meio à minha emoção, à minha ação. (Acho que fiquei paralisada, fora do ar, sem palavras.) Aí a vida veio passando, outros filmes também, e aqui estou: atrasada feito o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde", mas aqui estou. Preciso ticar essa pendência. Check. Pode ser que você não leia, já tenha se saturado com o assunto, vou entender. Mas preciso escrever, a dívida é comigo mesma. E antes que você vá embora, te adianto um pequeno spoiler: o post

28 de jul. de 2025Ler mais →

Comentários

Seja o primeiro a comentar!