

Paulinho foi aquele eletricista que entrou na minha casa pra arrumar o fio, a fiação, o disjuntor, até secador de cabelo ele arrumava. Fazia de tudo um pouco até virar de tudo um muito: virou de casa, o danado do Paulinho. Qualquer problema era ele que a gente chamava. De tão de casa virou que eu passei até a suprimir a segunda letra do nome dele. E era assim que eu o chamava: “Pulinho”! Tamo precisando docê!…” E Num pulo ele aparecia lá em casa, pau pra toda obra. Feliz da vida, dono de uma alegria contagiante, especialmente depois que seus netos nasceram. Virou vô babão, esse Paulinho. E com toda razão. (Carreguei um deles no colo, e continuei carregando no meu celular, fotos lindas que o Paulinho me mandava.)
O último jogo da Copa ele foi assistir com a gente, meu pai estava também. Não me lembro se teve gol, nem quantos. Mas não faltou carne, cerveja, abraço, alegria.
Depois o Paulinho não apareceu mais. Dona Saúde pediu atenção, o fígado não ia bem, um transplante passou a ser cogitado. Cheguei a combinar uma visita no início do ano, mas ô ano conturbado, sô. Veio vindo igual um furacão, acabamos tendo que desmarcar. (Sinto muito, meu amigo. Fiquei te devendo esse encontro.)
Hoje acordo com a notícia de que o Paulinho se foi. Duas paradas cardíacas, haja coração, doído amanhecer assim.
Choro sua partida, Paulinho. Apago as luzes lá de casa, aquele circuito todinho que você fez com tanta competência e carinho. E sei que agora é você quem vai acender as estrelas lá do céu.
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