Ora a gente é abajur aceso, noite que não quer dormir, pensamentos quebrando o silêncio, problemas se fazendo ouvir. Ora a gente é aconchego de travesseiro, paz adormecendo o coração, leveza que nos ensina a dançar. Bonito.
Turbulência ou calmaria, medo ou coragem, culpa ou liberdade, somos todos dicotômicos. Pluralmente dicotômicos. Ora isso, ora aquilo, ora Cecília, ora Meireles, ora rascunho, ora poesia, ora anjo, ora leão. (Um por dia, vamos lá, missão cumprida.)
Somos dois, três, somos vários: frutos e raízes, folhas e flores, de uma complexidade que filósofo nenhum ainda conseguiu explicar. (Será que Freud explica?)
Ora passado, ora presente, ora labuta, ora descanso, ora prosa ruim, ora notícia boa. E a lista não para por aí: ora inferno-astral, ora céu de brigadeiro, ora solitude, ora multidão, ora desespero, ora oração. É pegar com Deus ou largar de vez a esperança. (Larga não.)
De um jeito ou de outro, a gente está sempre buscando, sentindo, pensando. Às vezes chega a doer de tanto pensar, de tanto colocar neurônios pra brigar. Carece não, coloca eles pra brincar.
Às vezes o peito parece explodir de tanto sentir, coisas que a gente nem supunha existir. Ora alegria, ora tormenta, ora minuto, ora eternidade, ora vazio, ora saudade. Só sei que dói. Muito.
Não importa o lado que pesa mais. Ou menos. O que importa é transformar o impasse em passo de dança, dois pra lá um pra cá, bota os dois pra namorar. Aquela sua velha mania de excluir o “feio” acaba deixando tudo meio dividido, nada muito bonito, ao contrário do que você gostaria. Acolher as coisas do jeito que elas são, aceitar que todo jardim tem espinhos e ervas daninhas pode ser um caminho bem mais leve de percorrer.
Mas se você insiste em ficar no lado denso e sombrio, lembra que é daí que muitas vezes surgem as transformações mais lindas: da escravidão à liberdade, da doença à cura, do susto à serenidade, do morrer ao renascer. Basta voltar no tempo, na história, seja do mundo ou a sua própria, e ver que é possível fazer luz na escuridão.
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