“Acreditar. Ter fé.” Você pode ler isso com um sorriso, em sinal de concordância. Ou franzindo a testa, demonstrando que o assunto não desliza tão fácil para você. Vai depender muito do seu olhar, da sua história e do que anda carregando o seu coração. (Pedra ou flor? Tijolo ou aquarela? Cimento ou vela?)
Para alguns, acreditar soa tão natural e corriqueiro quanto comprar pão na padaria, colocar as roupas no varal, andar de bicicleta, conversar com Deus (a hora e do jeito que for). Para outros, o verbo acaba esbarrando em uma pergunta aparentemente sem saída: “como é que eu faço para acreditar? Como é que eu faço para ter fé se a minha vida anda tão escura, tão árida, tão difícil?” “Fé? O que é isso? Como se fala ou escreve? Que dialeto seria? Desconheço.”
Tenho ouvido esta pergunta de algumas pessoas. Fé tem sido palavra falada, debatida, pouco sentida. Principalmente quando a vida parece tirar o chão e mostrar o seu lado mais doído, parece inevitável perder a esperança (mais uma perda, há de se registrar). Nessas horas, tenho ouvido, parece inevitável brigar com Deus, mesmo quando ele continua com os braços firmes e estendidos para o abraço mais acolhedor que eu também já ouvi contar.
Aproveitei o Carnaval para assistir a um filme indicado por uma pessoa muito querida, e li a frase “Acreditar. Ter fé. Ir até onde suas crenças te levam” na legenda de uma das cenas clímax, surpreendentemente linda. O filme – “O mistério da libélula” – é de 2002, e traz Kevin Costner (tão novo, tão brilhante!…) no papel principal como um médico que fica viúvo de forma abrupta, e começa a receber mensagens da sua esposa através de crianças com câncer e pacientes à beira da morte. (Prepare o coração.)
Mistério? Suspense? Transformação? Amor? Muito amor envolvido. Muito foco em não deixar escapar a fé por nenhum segundo, por mais estranhas as formas em que ela se manifeste.
Da dor aguda do luto à inconformidade da perda, da raiva à culpa, da tristeza profunda à busca desenfreada por respostas, “O mistério da libélula” vem confirmar que a fé pode, sim, terminar em um sorriso no rosto e a confirmação de que ela tem força, sentido e asas capazes de nos libertar. Aqui estamos nós para voar, pois.
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