
O filme acabou e as luzes não se acenderam. Providencial. Um longa como este não poderia mesmo terminar assim, num corte abrupto para a vida lá fora.
Da penumbra veio um tempo, um respiro, uma ponte para gentilmente nos conduzir de volta. Aos poucos.
Fiquei alguns minutos paralisada, apreciando cada nome que ia surgindo na tela escura. Em letras garrafais, F E R N A N D A M O N T E N E G R O iluminou tudo.
Inspirado em uma história real, Vitória nos convida a olhar pra dentro e enxergar valores como coragem, liberdade, autenticidade, enfrentamento, verdade; assim como olhar para fora e enxergar da janela a impactante e dolorosa paisagem que vem da Favela de Copacacabana, tão contrastante com a praia vizinha que leva o mesmo nome, cartão postal de um cenário deslumbrante.
E por falar em nome, também é sobre identidade que o filme nos fala. Dona Nina ou Vitória? Aparecer ou se esconder? Mostrar-se ou desaparecer? Bancar ou recuar? Ai. Chega a dar falta de ar.
Que caminho você seguiria? Que sensação teria ao ver sua xícara de chá se estraçalhar com uma bala perdida adentrando a sala e invadindo a sua vida? Haja cidreira e camomila.
Vitória foi lá e fez. Filmou. Revelou. Denunciou a dura realidade de um país em que polícia e ladrão fazem parte do mesmo sombrio jogo, do mesmo temeroso drama.
Tudo o que ela queria era pôr a cabeça no travesseiro e dormir tranquila. (Acordar também.) Não é à toa que seu nome verdadeiro era Joana Zeferino da PAZ.
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