Em tempos de crush, Happen, Tinder, encontros virtuais e relações cada vez mais efêmeras, busca é substantivo concreto. Concretamente se quer amar, independente dos avanços tecnológicos, da escassez de vínculo ou das decepções vividas. Concretamente se quer encontrar alguém para dividir o tempo, a garrafa de vinho, o roteiro de viagem, a sessão de cinema, quem sabe os planos e também os sonhos. Quem encontra, tintim: da novidade se passa à rotina (e essa rotina ganha um encanto diferente), da rotina à labuta da relação e, se tudo der certo, do namoro ao altar, a partir de onde outros substantivos serão oficial e concretamente divididos: alegria, tristeza, saúde, doença, entre outros tantos antagonismos mais. (Faz parte.)
Quem ainda não encontrou, bota fé e vai. Apesar de todos os tropeços, percalços e desilusões, a busca continua para quem acredita que amar é possível, verbo transitivo direto, um dia de cada vez.
Nessa busca, as mulheres parecem saber bem o que querem. Trocaram o sapatinho de cristal pelos pés no chão, a torre pelas ruas, o “felizes para sempre” pelo “que seja infinito enquanto dure”. “Descinderelizaram”, acordaram, trocaram os contos de fadas por outras histórias. Querem amar, apenas. (E isso não é pouco.)
Os homens, apesar dos rótulos que costumam carregar, também querem conjugar o verbo transitivo na primeira pessoa, compartilhando seu mundo, seu tempo, seu amor e sua presença na vida de outro alguém. Simples assim.
Mas por que o simples fica às vezes tão complicado? Por que tanto desencontro, tanta expectativa quebrada, tanto desaponto no meio do caminho?
Tenho visto relações sendo deixadas no vácuo, especialmente pelo gênero masculino. Até ontem tudo era lindo, maravilhoso, quase perfeito. No dia seguinte, cadê? Sem nenhuma explicação, o moço que você descobriu no Tinder e te levou para jantar por duas semanas seguidas, fazendo juras e declarações de amor, some do mapa. Nem um telefonema, nem um zap, nem um tchau pra fechar a história. Até ontem o namoro ia bem, obrigado: almoços de domingo, as duas famílias apresentadas, muita cumplicidade e envolvimento, uma viagem dos sonhos: foi só o avião pousar que a relação acabou, a moça está até hoje sem entender.
No Programa “Papo de Segunda”, da GNT, alguém mandou por e-mail a pergunta: “Por que os homens têm tanta dificuldade de pôr fim a uma relação? Ao invés de sinceridade, optam pelo esfriamento, vão se distanciando, às vezes somem de vez. Vácuo, com todo o impacto que esse vazio deixa. Leo Jaime, um dos apresentadores do programa e também autor do livro “Cabeça de homem – um manual de fábrica para entender o que se passa”, respondeu que, para um homem, é muito ruim magoar uma mulher. Por isso é que ele acaba meio que se escondendo, desaparecendo, sem ir direto ao ponto. O que eles não sabem (será que não sabem?) é que, dessa maneira, acabam magoando muito mais.
Amar é verbo transitivo direto, lembra? Tudo bem que não caiba mais amor, acontece. (E onde se lê amor leia-se também paixão, sintonia, atração, compromisso, desejo, ligação.) Mas que possa caber um “obrigado”, “estou confuso”, “não estou pronto”, “cuide-se bem”, “um dia talvez a gente se esbarre de novo”. Amorosamente assim.
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