
Não entendo muito de futebol. A única vez que fui ao campo foi para fazer um trabalho de antropologia da faculdade, com um bloquinho na mão, de costas pro jogo, observando o comportamento da torcida.
Tenho em casa motivos de sobra para ser perita no assunto: um marido apaixonado pelo Galo, um filho que chora de emoção quando ele faz gol, uma filha que ficou “amiga” do Bernard.
Meu avô, se visse isso, ia estribuchar: antes de se tornar médico pneumologista, antitabagista ao extremo, foi artilheiro do Palestra Itália, atual Cruzeiro.
Mas a vida é assim mesmo. Para não dar espaço para a concorrência, o Dé mandou fazer um quadro assim que o Léo nasceu, e já na maternidade todo mundo lia: “Papai, obrigado por eu ter nascido atleticano.” (Desculpa, vô, mas tive que aderir à torcida.)
Não entendo muito de futebol mas trabalho apaixonadamente com as emoções. Perdas e ganhos, alegria e tristeza, medo e coragem, derrota, vitória e tantas outras dicotomias passeiam diariamente no meu consultório. Na estante, potes de vidro carregam pedras coloridas, cada um com um rótulo: AMOR, ALEGRIA, PAZ, ESPERANÇA. Para este último, cheio de pedras verdes, costumo apontar o dedo quando vejo à minha frente olhos vazios de crença, esvaziados de esperança.
Sem muito entender de pênaltis, faltas e arbitragem, no último jogo histórico do Galo contra o Newell’s Old Boys fui tomada pela emoção que tomou conta do estádio. Um torcedor atirou ao campo um terço que o goleiro Victor ajeitou no cantinho do gol. Um técnico aflito carregava Nossa Senhora estampada no peito, sem saber que era Ela que o carregava. A energia caiu, fazendo elevar a vibração da torcida com o refrão mais lindo e comovente de todas as torcidas: “Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito!”
E dessa energia fez-se a luz. Da luz fez-se a emoção da vitória. Da vitória fez-se a confirmação do tanto que é preciso acreditar na força que as coisas têm quando precisam acontecer.
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