Adultos, hora do recreio.
Prepare-se para a pipoca, o riso e a emoção de “Os Croods”, um filme impactantemente delicioso.
Impactante pelos cenários coloridos, abalos sísmicos em terceira dimensão, invenção do fogo. (Sim, você quase havia se esquecido que ele foi inventado um dia.)
Prepare-se para conhecer uma típica família do tempo das cavernas, conectadíssima com a fome, os perigos do mundo lá fora, a necessidade de sobrevivência.
Prepare-se para se encontrar com o seu adulto pós-moderno que, embora preso em outras cavernas, ainda morre de medo do escuro. De medo de amar. De se encontrar. De virar gente grande. De voar, de ser, de simplesmente viver. (Viver é perigoso, meu caro.)
Em quantas cavernas mais você tem se escondido? Por trás de qual celular, debaixo de qual cobertor, engolindo quantos analgésicos pra dor?
A DreamWorks não colocou isso lá na ficha técnica, mas Guimarães Rosa devia estar lá, no maior de todos os letreiros, lembrando que “o que a vida quer da gente é coragem”. Coragem de transpor montanhas, desenterrar-se de areias movediças, descobrir novas paisagens, sair do lugar, romper com o escuro. (Olha o fogo aí fazendo todo o sentido.)
Foi-se o tempo que medo era invenção de criança. Hoje os pequenos tem medo de mosquito da dengue, mas são os adultos que acendem o abajur à noite, às voltas com os seus fantasmas.
Como se não bastasse, o filme ainda tem um quê especial de constelação familiar quando a filha rebelde se enche de coragem para tomar o pai medroso. Na energia de um abraço, na ligação de um “eu te amo”, no abismo da dor de uma grande perda, o que acontece é força.
Adultos, ao trabalho.
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