Renata Feldman

Renata Feldman

Psicóloga e Escritora

Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Sim

22 March, 2017

Algumas decisões não são fáceis de tomar. Principalmente quando dúvidas e incertezas se colocam como pedras (muitas vezes avalanches) no caminho.

Casamento ou bicicleta, Praga ou Budapeste, especialização ou pedido de demissão. Gato ou cachorro, valsa ou viagem, conversa ou silêncio, adoção ou fertilização in vitro. “Ou isto ou aquilo”, como já disse Cecília Meireles num dos livros mais lindos que a minha infância conheceu.

Como quem toma uma decisão nada difícil – como tomar um café, viajar para o leste europeu, escolher o melhor lugar na orquestra sinfônica -, resolvo que vou me casar. De novo. No mesmo lugar de vinte anos atrás, com o mesmo sino tocando as seis badaladas, com as mesmas estrelas encerrando o Shabat, com a mesma khupá a nos acolher e abençoar. Amém.

Lá vem a noiva, toda de branco, “A missão” de Ennio Morricone lindamente cumprida, o “oboé de Gabriel” fazendo céu e terra se encontrar. (Segura firme, pai, há um longo corredor a caminhar.)

Caso de novo com o mesmo noivo de vinte anos atrás, ansiosamente esperando a noiva ao pé do altar, olhos chuviscando emoção e alumbramento, sol se pondo num sorriso iluminado.

Caso de novo com aquele que, alheio ao padre e ao amigo celebrante, ficou a olhar a noiva de cima a baixo, reparando cada detalhe do vestido, agora finalmente revelado; aquele que acabou esquecendo o documento para os padrinhos assinarem (mera distração, seu padre, repara não), mas que jamais esqueceu o tanto que o amor tem força – e é mesmo sagrado.

Sim, o mais sonoro sim da minha vida. A decisão mais certa e delicadamente tomada, como se toma um vinho francês há seis anos guardado. (Tão esperado.)

Em goles suaves, decantando passado e presente, tomo a decisão de deixar vir o tempo, o vento, as panelas descascadas, as rotas programadas (outras nem tanto), as taças quebradas, as revoluções tecnológicas, as inquietações dos filhos, os fios de cabelo branco, o caminhão de mudanças, as conchas adormecidas na cama, o bom dia de cada dia, a emoção de voltar a fita e casar de novo, tantas e tantas vezes, quantas vezes precisar.

Sim, o amor não precisa envelhecer com o tempo.

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