Você não deve estar entendendo nada.
O que este título está fazendo aqui, depois do lindo tributo às mulheres prestado no post anterior?
Que história é essa de sexo frágil, Renata?!
(…)
É a história – várias histórias – que tenho visto
e ouvido sobre algumas mulheres.
A cada história uma personagem, uma fantasia,
um quê de forte fragilidade.
Essas mulheres há muito largaram o tanque e o fogão, queimaram o sutiã em praça pública,
se desvirginaram do tabu de casar virgem.
Não se trata aqui de direitos iguais, salários menores, revoluções feministas ou outros pormenores.
Trata-se de pensar na forma como essas mulheres andam lidando com os seus afetos, suas buscas, idiossincrasias mais nuas.
Agora elas não queimam mais sutiã em praça pública.
Segundo testemunhas “cardio-oculares”,
elas queimam o filme, esturricam
o pouco de amor próprio que lhes resta,
desfazem-se em mil pedaços.
Esvaziadas de autoestima, movidas pelo desespero e achando que podem tudo, essas mulheres escancaram
sua fragilidade velada. Seu sexo frágil.
Tenho visto alguns homens incomodados
com essas mulheres. Tenho visto algumas mulheres
com vergonha dessas mulheres.
Andam dizendo que elas se jogam, se desmerecem,
se deitam na bandeja pro garçom levar.
Não sabem, não conhecem,
não colocam-se no seu lugar.
“Será que não sabem?”, entoam os advogados do diabo.
Segundo as más línguas, essas mulheres usam disfarce de coitadinha, impregnadas da própria carência,
saltos transformados em rasteirinha. Rasa inocência.
Línguas mais ferinas dizem que elas se fantasiam
de lobinhas bobinhas em pele de cordeiro,
maquiagem borrada, assustadoramente
enganando a si mesmas.
Línguas amigas interrogam a quantas anda
sua autoestima, sua inteireza, seu espelho.
Retomando Simone de Beauvoir,
“não se nasce mulher, torna-se mulher”.
E quando me perguntam no que estas mulheres
estão se tornando, ofereço um refresco de maracujá,
rede na varanda e convite pra filosofar.
Cessar fogo. Trégua de pedras.
Olhos se abrindo em colo pra compreensão chegar, gentilmente se aninhar.
Rompendo com todos os rótulos e estereótipos,
resta o grito doído da mulher que pede arrego,
rumo, paradeiro, colete salva-vidas, prumo.
O que lhe falta?
Bússola, luz, caminho, porto seguro.
Muitas vezes não é a mulher que grita.
É a criança que chora. Sapateia. Faz pirraça.
Joga as tranças do alto da torre,
se agarrando num fio desesperado de esperança,
ensandecida para chegar em algum lugar.
Que lugar, Rapunzel?
Perdida nos seus descaminhos, absorta
em sua greve de sono, precisa fechar os olhos,
apagar a luz, programar o despertador
para enfim acordar mulher.
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