Quarta é dia de aula. Vou pra “minha” FUMEC feliz da vida, me encontrar com uma das turmas mais adoráveis que já tive na vida: a turma do NEETI (Núcleo de Estudos Escola da Terceira Idade). Este semestre a minha disciplina é “Emoção em Prosa e Verso”, você pode imaginar o quanto “me divirto”.
Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Adélia Prado, Rubem Alves, Lya Luft, Cecília Meireles são alguns dos nossos convidados de honra. Colocamo-nos diante deles, olhos iluminados e alma emudecida, para aprender o que a sua poesia ensina. (Ô. E como ensina.)
Na última aula nos transformamos em jardineiros, doceiros, sensíveis aprendizes. Cora Coralina nos pôs no colo, avental de cozinheira, regador na mão e soprou um segredo: “Recria tua vida, sempre sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”
Recomeçar, verbo pra lá de bonito. A gente está sempre recomeçando. Uma semana, uma quarta-feira, uma emoção de vida inteira.
A gente recomeça quando cai, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Quando faz as pazes. Quando deseja um Ano Novo doce para alguém em pleno outubro. Quando arregaça as mangas e encara um trabalho novo. Quando descobre que aquele nódulo não passou de preocupação e alguns fios de cabelo perdidos. Quando deixa a barriga crescer de novo pela terceira vez, tanta coisa já esquecida. Quando gruda num livro e recomeça de onde parou, de onde aquela página deixou saudade. Quando sai da terapia se sentindo um caco, mas o caco mais lapidado do mundo, quase diamante. Quando muda de casa e embala até a alma, caixas e caixas de significado e história. Quando atravessa a rua de peito erguido, lembrando que o pior já passou. Quando ri da barriga doer, a mesma barriga que um dia já curvou de dor. Quando encontra um moço bonito e ele te fala verdades que você quer muito acreditar. Quando deposita numa caixa de remédio toda a esperança de cura que houver nessa vida.
A gente recomeça sempre, todo dia. E sem se dar conta vai “removendo pedras, plantando roseiras, fazendo doces”, escrevendo poesia.
Compartilhar este post
Posts Relacionados

Carta à Clarice Lispector
Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage

Foi-se
Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na

Estou aqui.
Sim, eu sei. Perdi o timing. Me perdi em meio à minha emoção, à minha ação. (Acho que fiquei paralisada, fora do ar, sem palavras.) Aí a vida veio passando, outros filmes também, e aqui estou: atrasada feito o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde", mas aqui estou. Preciso ticar essa pendência. Check. Pode ser que você não leia, já tenha se saturado com o assunto, vou entender. Mas preciso escrever, a dívida é comigo mesma. E antes que você vá embora, te adianto um pequeno spoiler: o post
Comentários
Seja o primeiro a comentar!