Trabalho

Eternos recomeços

05 October, 2016

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Quarta é dia de aula. Vou pra “minha” FUMEC feliz da vida, me encontrar com uma das turmas mais adoráveis que já tive na vida: a turma do NEETI (Núcleo de Estudos Escola da Terceira Idade). Este semestre a minha disciplina é “Emoção em Prosa e Verso”, você pode imaginar o quanto “me divirto”.

Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Adélia Prado, Rubem Alves, Lya Luft, Cecília Meireles são alguns dos nossos convidados de honra. Colocamo-nos diante deles, olhos iluminados e alma emudecida, para aprender o que a sua poesia ensina. (Ô. E como ensina.)

Na última aula nos transformamos em jardineiros, doceiros, sensíveis aprendizes. Cora Coralina nos pôs no colo, avental de cozinheira, regador na mão e soprou um segredo: “Recria tua vida, sempre sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

Recomeçar, verbo pra lá de bonito. A gente está sempre recomeçando. Uma semana, uma quarta-feira, uma emoção de vida inteira.

A gente recomeça quando cai, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Quando faz as pazes. Quando deseja um Ano Novo doce para alguém em pleno outubro. Quando arregaça as mangas e encara um trabalho novo. Quando descobre que aquele nódulo não passou de preocupação e alguns fios de cabelo perdidos. Quando deixa a barriga crescer de novo pela terceira vez, tanta coisa já esquecida. Quando gruda num livro e recomeça de onde parou, de onde aquela página deixou saudade. Quando sai da terapia se sentindo um caco, mas o caco mais lapidado do mundo, quase diamante. Quando muda de casa e embala até a alma, caixas e caixas de significado e história. Quando atravessa a rua de peito erguido, lembrando que o pior já passou. Quando ri da barriga doer, a mesma barriga que um dia já curvou de dor. Quando encontra um moço bonito e ele te fala verdades que você quer muito acreditar. Quando deposita numa caixa de remédio toda a esperança de cura que houver nessa vida.

A gente recomeça sempre, todo dia. E sem se dar conta vai “removendo pedras, plantando roseiras, fazendo doces”, escrevendo poesia.

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