Eu nunca fui alucinada por cachorro, já contei aqui no blog. Há três anos – movida pela insistência dos filhos, a resignação do marido e a opinião favorável, fervorosa (quase uma torcida organizada) dos internautas que me lêem – amoleci o coração e adotei (adotamos, segunda pessoa do plural) um vira-lata. Não tive coragem de contar aqui (o trauma foi grande), mas acabamos tendo que devolver o Luckie Sky Walker. O bichinho era da pá virada, mais parecia um Darth Vader: mordia, rosnava, rugia, não dava sossego, quase destruiu o apartamento. Já viu cão com desvio de comportamento? Pois é. Fiquei sabendo, tempos depois, que uma família o adotou e ele foi o morar numa mansão, com direito a grama verdinha e ar livre. Notícia bombástica: foi devolvido de novo. Coitado do Luckie. Se houvesse divã para cães, o tema da rejeição seria largamente explorado.
Mas se cãezinhos vivem a dor do abandono, crianças também sofrem com o fato de não terem um “melhor amigo do homem” pra chamar de seu. Como se não bastasse a experiência traumática (para sempre lembrada pela pequena cicatriz da mordida que levei na mão esquerda), os meninos voltaram a bater na tecla do “eu quero um cachorro”. “Por favooor, é o que a gente mais quer nessa viiida. Por favor, por favor, por favor…”
Até que um dia a gota d´água derramou numa reunião de escola, quase um desabafo da professora:
“A Bella não fala de outra coisa, chega a dar dó. Vocês nunca pensaram em dar um cachorrinho a ela?”
Pensamos. Ô, se pensamos, querida professora. Afinal, nada mais didático, pedagógico e humano do que dar aos filhos a alegria de ter um bichinho de pelúcia vivo, que dispensa pilha, correndo pela casa.
E como tudo na vida merece uma segunda chance, lá fomos nós, felizes com a ideia de fazer uma big surpresa no Dia das Crianças, bem assessorados pela minha super irmã veterinária, perdidamente apaixonada por esse mundo cão.
Bom, surpresa acabou não sendo, graças a uma avançada tecnologia bluetooth que disparou a voz da minha sogra pelo viva-voz do celular, animadíssima, bem na hora em que os meninos estavam dentro do carro:
– Meu filho! Que notícia boa, essa do cachorrinho! Os meninos vão amar!
Eles amaram mesmo, minha sogra. E eu – quem me viu quem me vê – estou tomada de encantamento por essa cachorrinha que os meninos batizaram de Jessie. Descobri que – mais do que pelo branco e dourado, raça Shih Tzu, dentes afiados e uma espuletice que é dela – essa cachorrinha tem o dom de derramar amor pelos olhos. Um amor cativante, doce, incondicional e singelo.
Feliz Dia das Crianças pra mim também.
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