Renata Feldman

Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Amor

Quem me viu quem me vê

19 November, 2015

 

JESSIE

Eu nunca fui alucinada por cachorro, já contei aqui no blog. Há três anos – movida pela insistência dos filhos, a resignação do marido e a opinião favorável, fervorosa (quase uma torcida organizada) dos internautas que me lêem – amoleci o coração e adotei (adotamos, segunda pessoa do plural) um vira-lata. Não tive coragem de contar aqui (o trauma foi grande), mas acabamos tendo que devolver o Luckie Sky Walker. O bichinho era da pá virada, mais parecia um Darth Vader: mordia, rosnava, rugia, não dava sossego, quase destruiu o apartamento. Já  viu cão com desvio de comportamento? Pois é. Fiquei sabendo, tempos depois, que uma família o adotou e ele foi o morar numa mansão, com direito a grama verdinha e ar livre. Notícia bombástica: foi devolvido de novo. Coitado do Luckie. Se houvesse divã para cães, o tema da rejeição seria largamente explorado.

Mas se cãezinhos vivem a dor do abandono, crianças também sofrem com o fato de não terem um “melhor amigo do homem” pra chamar de seu. Como se não bastasse a experiência traumática (para sempre lembrada pela pequena cicatriz da mordida que levei na mão esquerda), os meninos voltaram a bater na tecla do “eu quero um cachorro”. “Por favooor, é o que a gente mais quer nessa viiida. Por favor, por favor, por favor…”

Até que um dia a gota d´água derramou numa reunião de escola, quase um desabafo da professora:

“A Bella não fala de outra coisa, chega a dar dó. Vocês nunca pensaram em dar um cachorrinho a ela?”

Pensamos. Ô, se pensamos, querida professora.  Afinal, nada mais didático, pedagógico e humano do que dar aos filhos a alegria de ter um bichinho de pelúcia vivo, que dispensa pilha, correndo pela casa.

E como tudo na vida merece uma segunda chance, lá fomos nós, felizes com a ideia de fazer uma big surpresa no Dia das Crianças, bem assessorados pela minha super irmã veterinária, perdidamente apaixonada por esse mundo cão.

Bom, surpresa acabou não sendo, graças a uma avançada tecnologia bluetooth que disparou a voz da minha sogra pelo viva-voz do celular, animadíssima, bem na hora em que os meninos estavam dentro do carro:

– Meu filho! Que notícia boa, essa do cachorrinho! Os meninos vão amar!

Eles amaram mesmo, minha sogra. E eu – quem me viu quem me vê – estou tomada de encantamento por essa cachorrinha que os meninos batizaram de Jessie. Descobri que – mais do que pelo branco e dourado, raça Shih Tzu, dentes afiados e uma espuletice que é dela – essa cachorrinha tem o dom de derramar amor pelos olhos. Um amor cativante, doce, incondicional e singelo.

Feliz Dia das Crianças pra mim também.

JESSIE 2

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