Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Problemas caminham

02 May, 2015

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– “Hoje foi duro levantar da cama.”

– “Cama, mesa e banho.”

– “Tudo bem?”

– “Zen. Ando meditando.”

– “Uma falta de assunto danado.”

– “Tô correndo atrás.”

– “Ganhou uma rasteira.”

– “Ri da minha barriga doer.”

– “Quando é que vai nascer?”

Parece conversa de doido mas é uma pista de cooper. Diálogos entrecortados, cruzados, arfantes, logo que a vida diz bom dia.

Casais caminhando colados, de mãos dadas. Vizinhos ofegantes. Pai e filha. Bengala e sorriso. Namorados. Futuros amantes. Amigas, irmãs, tias. Cachorros e seus donos. Gente andando só, em busca de sol, esse antidepressivo sem igual.

Antes de ir pro batente coloco o coração para trabalhar. Rápido, acelerado, 150 batimentos por minuto. Passeio os olhos pelo relógio, seleciono a trilha que me faz voar (sem música empaco),  inspiro neblina, acordo a endorfina, torno-me espectadora andante do dia que entorna vida.

Talvez por  força do hábito me pego em posição de escuta. Ossos do ofício. Pesco palavras, risos, cada passo uma sílaba entremeada. Conversas triviais, pequenos desabafos,  fragmentos do cotidiano, a quantas anda (ou desanda) a política. E vai ter gol no futebol, beijo na novela, falta d´água,  macarronada pra mais tarde com amêndoas e molho pesto. Haja calorias pra queimar.

Mas o que mais me chama atenção é o monólogo silencioso daqueles que andam sozinhos, cada qual com uma expressão reveladora dos sentimentos que correm do lado de dentro. Paixão, braveza, alegria, leveza, amargura, determinação, tristeza.

Se fosse um  filme seria “Short Cuts”. Se eu fosse colocar legenda, inspiração não faltaria. Quase leio os pensamentos:

– “Acho que finalmente encontrei o homem da minha vida.”

– ” Não sei mais o que fazer para colocar limite nesse menino.”

– “Férias pra que te quero!”

– “E se eu for mandado embora?”

– “Hoje vai rolar um cineminha.”

– “Obrigada, meu Deus, por estar vivo.”

– “Preciso perder dez quilos.”

– “Às quatro sai o resultado da mamografia.”

– “Vou fazer dar certo.”

– “O casamento acabou.”

Alegria tem pés e tristeza também, o asfalto é que o diga.

Ainda não estou no consultório mas já me sintonizo com os sentimentos e emoções que fazem travessia no interior da gente.

Problemas nos paralisam, é certo. Mas também caminham, e caminhando se transformam.

Que você possa estreitar diálogos lindos com você mesmo(a) neste dia que se inicia.

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