Antes que o tempo corra ainda mais ágil, serelepe, urgente; antes que minha filha adolesça de vez, migrando da graça da infância para o respiro de novos ares, lá vou eu – catando pérolas e colecionando-as aqui, neste meu precioso colar de contos e memórias.
Momento café da manhã, sagrada correria nossa de cada dia. Em meio ao tilintar de xícaras e talheres, disputando espaço com a geleia e a cesta de pães, uma prova de geografia salta bem à minha frente, com a dona dela sorrindo pra mim:
– Olha como fui bem, mãe. Assina pra mim? (…)
– E agora essa, de ciências. Não tirei total por um décimo!…
– Agora, teve uuma, de matemática, que eu não lembro quanto tirei… Eu esqueci na escola… E-eu perdi média… Você pode fazer um bilhete pro professor, falando que você está ciente?
Cientíssima. Um olho no relógio, o outro no ovo já quase cozido (paixão matutina da Bella), e olha a tapioca saindo no capricho!, e olha a mensagem do meu pai chegando pelo zap (“Bom dia alegria”!), e assim fui escrevendo o bilhete enquanto bebericava meu café. (Não sei como ainda não inventaram mãe-polvo ou mulher-elástico, juro que eu ia “levar” uma de cada.)
Como ainda “não inventaram”, acabei deixando a água ferver um cadinho além da conta, e o resultado foi uma gema um pouco mais consiste que o normal. (“Normal”, como dizem os pré-adolescentes que escuto lá no consultório…) Foi quando veio a pérola:
– Mamãe, tô achando que você perdeu o jeito do ovo… (!)
– Ah, menina!… Se apresse porque senão você é que vai perder: a aula!
E lá foi ela, mochila nas costas envergando a coluna, a mãe rindo de mais uma “perolice” pra coleção.
Algumas horas depois, recebo o seguinte Whats´App da Coordenadora da escola: “Bom dia. Comunicamos que Isabella não trouxe a prova de matemática assinada. Favor verificar.”
A mãe respondeu com gosto: “Bom dia! Ela me falou, enviei um bilhete ao professor dizendo estar ciente. Obrigada!”
Mas a Coordenadora continuou: “Ela esqueceu o bilhete. Por isso mandei zap!!!”
A mãe encerrou a conversa com um emoji de macaquinho envergonhado acompanhado da seguinte explicação: “Hormônios, só pode ser!… Do crescimento e do esquecimento!” (Emoji rindo, só podia…)
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