Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

AniverGalo

28 July, 2014

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Imagine uma grande festa de aniversário.

Sessenta mil convidados, todos absolutamente confirmados.

Traje clássico-esportivo, pretinho básico indefectível mesclado com traços de branco.

Horário: 22 horas, com previsão de término entre meia-noite e uma da manhã.

Data: 23 de julho, quarta-feira.

Local: Estádio Governador Magalhães Pinto, Mineirão.

Aniversariante: meu marido, um inveterado apaixonado pelo Galo, paixão de longa data.

Menu: autêntico tropeiro e torta de coco de sobremesa com 44 velas acesas. O pedido? Adivinha.

E eu, que nunca tinha ido ao campo (a não ser para fazer um trabalho de antropologia cultural, de costas pro jogo e bloquinho na mão registrando a expressão da torcida, como já contei por aqui) fui a primeira a aderir à  grandiosa e peculiar comemoração. Galoooooo!

Eu, que sempre amei gente mas nunca gostei de multidão, futebol, confusão, acabei entrando no clima. (Aniversário é causa nobre, especialmente de quem, iria até pra lua se preciso.)

E foi aí que eu entendi essa paixão que tem hino, torcida e escudo estampado no lado esquerdo do peito. Ainda dentro da van eu via pela janela um grande contingente preto e branco caminhando com euforia em direção ao estádio, bandeira protegendo as costas, friozinho de 13 graus contrastando com muito calor humano. Naquela noite éramos todos iguais. Todos um mesmo sonho, um mesmo uniforme, um mesmo ideal, uma mesma raça, energia e vontade. Unanimamente atleticanos, simplesmente. Uma forte sensação de cumplicidade e pertencimento correndo nas veias.

Explodindo no céu, fogos de artifício desejavam boas-vindas, bom jogo, Feliz Ano Novo, parabéns pra você. Meus filhos não sabiam se estavam no Mineirão ou na Disney. Minha sogra fazia de conta que a dor crônica no joelho não passava de ficção científica;  o que uma mãe não faz por um filho? Minhas cunhadas não cabiam em si de felicidade, uma delas bem-acompanhada pelo marido cruzeirense, nunca vi cunhado tão amoroso e desprendido.

Quando finalmente adentramos o estádio pelo portão D e acessamos a arquibancada, mais emoção. Sabe mineiro vendo o mar pelo primeira vez? Foi assim que eu me senti diante daquele gramado verdinho, gigante, ao vivo e em cores, tão mais bonito e de verdade que na televisão.

Eu, que escuto a palavra sofrimento várias vezes por dia no meu ofício, confirmei o quanto ele ganha força coletiva elevada ao quadrado num jogo do Galo. Vi marmanjo roendo as unhas, mulher borrando a maquiagem, criança perdendo o sorriso nos 48 minutos do segundo tempo. Sofri.

Mas como tudo na vida vira, veio a prorrogação como presente: dois gols redondinhos  pra entrar na história, pra fazer bonito, pra cantar alto esse hino de raça e amor.

Nem preciso dizer que o fim da festa foi só o começo.

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