Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Pão, cerveja e sobrancelha

27 August, 2014

trigo1 PÃES CAFOFO

Fiquei amiga da Cidinha no facebook, fruto de conexões afetivas muito além do mundo virtual. Veio “apresentada” por sua  irmã Selma, mãe e sogra de amigos especiais, vó de netos que viraram sobrinhos,  querida de muitos encontros, viagens, prosa compartilhada com biscoito de queijo e brigadeiro de colher.

E foi num desses encontros – uma animada festa junina para comemorar o aniversário do marido e do neto – que conheci a irmã, Cidinha, ao vivo e em cores (muito melhor do que na tela do computador).  Durante um tempo a fiquei observando, achando a coisa mais linda aquela cena. Ela não meu viu, estava de olhos fechados, muitíssimo ocupada. Ao som de um forró arretado, dançava coladinha no marido, Bizuca como é chamado, completamente entregue ao momento, à música, ao calorzinho daquele frio junino, quase em alfa minha amiga Cidinha. Encantada.

Como um encontro puxa o outro, tivemos a alegria de passar um feriado com eles na fazenda onde mora o casal, no famoso Cafofo. Sempre achei que este fosse apenas um apelido carinhoso, farra gostosa embolada num aconchego bom, mas tive a surpresa de ver na estrada uma placa indicando o lugar. Sim, Cafofo é um pequeno povoado perto de Itapecerica, tesouro precioso da nossa Minas Gerais, só pelo nome você já imagina. Ninho de passarinho na varanda do quarto, quaresmeira rosa beijando o chão, riacho com piaba para pescador mirim, umbigo de banana para principiantes, frutas exóticas do cerrado, leite ao pé da vaca,  geleia de morango “de verdade”,  friozinho abençoado, vinho pra brindar a amizade, causos pra chorar de rir e uma comilança que não tem explicação. (O arroz doce da Cidinha simplesmente tinha que ir parar no Guinness Book.)

Mas o melhor (tem jeito?!) ainda estava por vir. Descobrimos que o Bizuca, além de ótimo parceiro de dança, ainda por cima é “prendado”. Faz pão, faz cerveja (com e sem glúten, tá servido?), faz chocolate com cacau que ele mesmo planta, faz a mulher feliz que é uma beleza, bem-casados que são há mais de 40 anos.

E eu lá, toda admirada, exclamando só para confirmar:

– Gente, mas esse Bizuca é um talento, Cidinha. Faz pão, faz cerveja…

– Faz até minha sobrancelha, Renata.

(Risos, risos e mais risos, “momento desopilar o fígado”.)

E continuou ela, na espontaneidade “cafofiniana” de ser:

– Só que da última vez eu pedi pra ele usar a tesourinha e ele usou o barbeador.

(!…)

Mais risos, mais curtição, mais copos fazendo tintim, mais azeite molhando o pão, essas coisas simples e incrivelmente gostosas de compartilhar.

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