Você aprendeu várias regras de boa educação. Como falar, como se comportar, como agir. Como ser uma moça bem-educada, um moço gentil, alguém que segue à risca o protocolo.
Aprendeu a seguir o certo, o convencional, uma boa dose de cerimônia e certa formalidade que convém ao mundo. Fez o dever de casa direitinho, passou de ano, passou no teste. Ganhou estrelinha, acumulou incumbências, um tanto de lombalgia também, na ilusão de que conseguiria (ou deveria) carregar o mundo nas costas.
Foi aos poucos se esquecendo da criança que adormece em você. E que muitas vezes acorda, pede colo, espreguiça, faz birra, quer sorvete.
Estou enganada ou foi assim que você foi seguindo pela vida afora? Carregando uma tonelada de “ter ques” ao invés dos mil “porquês” que inundavam seus olhos outrora…
Pensa comigo se você não foi entrando no automático, cada vez mais no automático, num jeito bem robótico de levar a vida. Muitas vezes sem se perguntar, sem se permitir, sem ouvir o que o coração tem a lhe dizer. Logo ele, que é mestre em oratória: pulsa palavras, se você deixar. Pulsa vida, se você souber ouvir. Escuta.
Calma, respira. Ainda está em tempo de corrigir a rota e se encontrar de novo através daquela criança que ficou aí perdida. Aquela que sabe o que quer. Que fala o que sente. Que dá abraços de verdade. Que pega o telefone e esmaga a saudade. Que chama pra sair, como quem não quer nada: só morrer de rir. Que compra presentes com alegria, fazendo careta pra correria. Que coleciona missões cumpridas com o mesmo prazer de quem acabou de raspar o brigadeiro da panela. Que faz as coisas de coração, com emoção, muito mais que da boca pra fora. Sim senhor. Sim senhora.
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