“O essencial é invisível aos olhos.” “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.” “Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo.” “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” “Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro.”
Parecem conter música, melodia, as clássicas frases do nosso querido Pequeno Príncipe. Quem nunca arquivou no coração esse tanto de amor que ele nos põe a pensar? E também a sentir, agir, transformar? Saint-Exupéry reside em nós, sem jamais envelhecer ou morrer, por mais que o tempo passe.
E por falar em tempo, chego um tanto atrasada (“É tarde, é tarde, é tarde”, já diria o coelho da Alice) para falar de um filme que está quase saindo de cartaz, lamento. O longa “O Pequeno Príncipe” traz toda essa dimensão de amor pra gente refletir sobre a nossa existência, mas abarca também um aspecto que nos toca profundamente: o adulto que nos tornamos um dia. A mãe controladora. O pai ausente. O professor massacrante. O médico desumano. O homem que rouba estrelas para guardá-las na gaveta. O engenheiro que na verdade queria ser desenhista. O aviador que cai no deserto para cair em si. A mãe que liga o dedo na tomada e ainda assim não leva choque. O pai que projeta para o filho os sonhos que ele não conseguiu realizar. O adulto robô, robótico, “um dois feijão com arroz”. A adulta amarga e talvez desesperada para ser feliz, morrendo por um triz. O empresário que tem tudo mas ainda assim não tem o essencial. A paisagista que nem se lembra que foi criança um dia, bloqueio agudo de memória.
Ou então, antes que a gente deprima, antes que você pense que este tornar-se adulto tem apenas um lado, e cheio de espinhos: vai plantar uma roseira. Colher amigos. Contar estrelas. Pensar na vida. Prosear com o vento. Olhar seu filho nos olhos. Ouvir o que o coração gentilmente tem a lhe dizer. Vai afagar um cachorro, fazer cosquinha na filha, fazer xixi de tanto rir. Vai escolher uma profissão pra amar, mas não deixa de amar as pessoas em primeiro lugar. Vai ser poeta, bailarina, astronauta, aprendiz de flauta, adestrador de foca. Larga a régua, o compasso, a espera obcecada, a velha mania de querer tudo no lugar. Troca a responsabilidade exacerbada, milimetricamente calculada, pela alegria de cativar e ser cativado por alguém.
Compartilhar este post
Posts Relacionados
emoçãoCarta à Clarice Lispector
Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage
vidaFoi-se
Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na
cinemaEstou aqui.
Sim, eu sei. Perdi o timing. Me perdi em meio à minha emoção, à minha ação. (Acho que fiquei paralisada, fora do ar, sem palavras.) Aí a vida veio passando, outros filmes também, e aqui estou: atrasada feito o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde", mas aqui estou. Preciso ticar essa pendência. Check. Pode ser que você não leia, já tenha se saturado com o assunto, vou entender. Mas preciso escrever, a dívida é comigo mesma. E antes que você vá embora, te adianto um pequeno spoiler: o post
Comentários
Seja o primeiro a comentar!



