Antes mesmo de eu nascer, a música já fazia parte da minha vida. As primeiras contrações da minha mãe começaram em um concerto de Chopin, tendo meus avós maternos como testemunhas dessa emoção. Foi o meu jeito de aplaudir, de pedir pra nascer.
Fui estudar piano, influenciada pela lembrança da minha querida avó Bella. Conheci o amor através das sonatas de Schumann. Chorei com “Jesus alegria dos homens”. Embalei os meus filhos com a poesia de Mozart.
Troquei o piano por esse teclado aqui. Minha professora virou cunhada, madrinha, fada-madrinha.
Semana passada fui assisti-la em um concerto comemorativo dos 200 anos de Chopin e Schumann. Dessa vez não pedi pra nascer. Agradeci por viver, por presentear minha alma com o piano de Rosiane Lemos e o violoncelo de Kayami Satomi. Eu que amo a escuta desde sempre, me emocionei com o diálogo harmonioso, tocante desses dois instrumentos, desses dois talentos. Escutei o amor – esse amor que é falado, compartilhado, melodiosamente suplicado.
Até se casar com ela, Schumann viveu por Clara um amor proibido – declarado nas suas cartas e na composição das Cenas Infantis. Os nomes dados a estas pequenas peças traduzem um muito dessa história de amor: “Jogo da cabra-cega”, “Desejo de criança”, “Completamente feliz”, “Grande acontecimento”, “Quase demasiado sério”, “O poeta fala”.
Sim, meu caro Schumann. O poeta fala, ama, sofre, canta e encanta. A gente escuta e por vezes responde.
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