Amor

O NÃO mais duro de dizer aos filhos

08 July, 2015

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Não estava no script. Nem no coração, na agenda ou no check-list. Não estava.

Ninguém sonha em se separar um dia. Esvaziar o armário, dividir presentes ao meio, mudar de CEP,  largar as chaves, dizer até mais, até breve, talvez nunca mais.

No engasgo de um choro nunca antes chorado, de uma dor nunca antes doída, você diz adeus e roga a Deus que te carregue no colo, pedindo a Ele (pelo amor Dele)  que te empreste os ombros, sem direito à devolução.

Não, você não sonhou passar por isso. Muito antes que o último suspiro definisse o impensável, conforme as palavras do padre, a vida mesmo se encarregou de mudar o caminho e entortar o destino. Escoliose de alma no mais último grau, mudança de rota e de planos a partir da simples troca de palavras: ao invés do clássico “até que a morte os separe”, o inevitável “até que a vida os separe”.

E se uma separação já é dolorosa entre quatro paredes, chega quase a arrancar pedaço quando esbarra em outras coloridas paredes: as que acolhem abraços de Romero Britto e estantes com pelúcia, gibis, aviões, bonecas e carrinhos.

Estou falando do casal que decide se separar e – como se não bastasse toda a dor que neste momento os une – se depara com um sofrimento à parte: dar a notícia aos filhos, transformando toda uma vida compartilhada – domingos de sol, risos,  bom dia, joelho ralado, despertador, balé, futebol, escola, sofá, pipoca, cobertor quentinho – em guarda compartilhada. Um pra lá, outro pra cá. E no meio desses dois, os frutos de um amor agora quebrado.

Tenho ouvido pais e mães perdidos, moídos,  rasgados por dentro quando esbarram no sofrimento que causarão aos seus filhos quando os pequenos acordarem filhos de pais separados. Por esta dor e todas as outras, pela complexidade e seriedade que regam a aridez do tema, o assunto  deve ser pensado, repensado, ponderado um milhão de vezes. Bom dia, aceita um chá?, respire fundo, conte até vinte. Histórias de amor não são feitas para serem perdidas como se perde a chave de casa. Mas se a separação é inevitável, dolorosamente aguardada, que se ponha a caminho.E que não falte sol no meio de tantas nuvens pesadas, escuras.

Os filhos continuarão filhos, inteiros e não pela metade, é certo que sim. Por mais que sofram, a dor não será maior do que ter os pais  vivendo distanciamento e conflitos incessantes sob o mesmo teto, sustentando a velha tese “juntos porém separados”, numa velada ou explícita guerra fria.

Faça uma enquete e pergunte aos “filhos de pais separados” o que marcariam, se tivessem que escolher:

A) “Meus pais casados e brigando todos os dias, infelizes.”

B) “Meus pais separados e vivendo em paz, felizes.”

É letra B na cabeça e no coração.

“Mas o que dizer a eles?, “, perguntam-se os pais num contínuo de angústia, nó na garganta e dor no peito, como se tivessem que compartilhar  o fracasso maior do mundo.

E é nessa hora que o abraço precisa vir colorido, apertado, aquecido, quase saltando da pintura.

“O papai e a mamãe NÃO são mais namorados, marido e mulher. Somos apenas bons amigos. Mas somos – e seremos para sempre – o pai e a mãe de vocês. Dentro do seu coração, meu filho, o papai e a mamãe estarão sempre juntos, um ao lado do outro, abraçando  você e abençoando cada cantinho da sua vida.”

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