Você descobre que o seu filho não é mais criança quando se despede dele com um beijo na porta da escola e escuta invariavelmente a mesma pergunta, seguida de um esfregão na bochecha: “Você está de batom?”.
Você descobre que o seu menininho saiu do diminutivo faz tempo quando ele passa a dividir as meias com o pai e as queixas com a mãe: “Essa bermuda cheia de desenhinho eu não vou usar. Muito menos pijama que brilha no escuro.”
Bem-vinda adolescência, com todas as suas espinhas, exigências e alterações hormonais, o que não dizer das emocionais. O gosto muda, o paladar altera, a voz desafina e os publicitários ganham um novo e interessante público-alvo.
Eu que sempre gostei de registrar as perolices do Léo e da Bella, não poderia deixar de contar aqui (com a estrita autorização dele, vale ressaltar) um episódio que acabou em riso e história pra contar.
No último final de semana ele foi dormir na casa de um amigo e eu fui ajudá-lo a fazer a mochila, com esses olhos de mãe que não deixam faltar itens básicos como escova de dente e fio dental. Na hora de pegar o pijama, escolhi logo um novinho que comprei conforme manda o figurino: nada de brilho no escuro e desenhinhos infantis: apenas uma blusa lisa e a calça com minibúfalos (bem discretos, vale lembrar), a loja simplesmente não tinha a opção “exclusivo para adolescentes”.
Rá. Não demorou para a polêmica ser instalada:
– Mãe, com esse pijama eu não vou.
– Por quê, Léo? Qual o problema ?!
– O problema é que eu vou pagar mico.
– Mico?! Esse pijama nem brilha no escuro…
– Não brilha no escuro mas tá cheio de bode.
– Que bode, Léo, isso é búfalo, quase de adulto esse pijama!
E aí ele trocou calmamente o dito pijama por um bem antiguinho, cinza de listras, deu um sorriso matreiro de quem sabe o que quer e terminou a conversa desse jeito:
– Mãe, se atualiza.
Depois dessa eu fui. Me atualizar na vida, como ele disse. Aproveitei o ensejo para atualizar também um tanto de cosquinha, beijo, abraço, riso. E aproveitei pra remedar o meu recém-adolescente quando disse a ele que estava passando da hora de tomar banho:
– Léo, se atualiza.
Compartilhar este post
Posts Relacionados
emoçãoCarta à Clarice Lispector
Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage
vidaFoi-se
Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na
cinemaEstou aqui.
Sim, eu sei. Perdi o timing. Me perdi em meio à minha emoção, à minha ação. (Acho que fiquei paralisada, fora do ar, sem palavras.) Aí a vida veio passando, outros filmes também, e aqui estou: atrasada feito o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde", mas aqui estou. Preciso ticar essa pendência. Check. Pode ser que você não leia, já tenha se saturado com o assunto, vou entender. Mas preciso escrever, a dívida é comigo mesma. E antes que você vá embora, te adianto um pequeno spoiler: o post
Comentários
Seja o primeiro a comentar!


