Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa

Bituca

05 May, 2025

Conheci Bituca nas aulas de canto da escola. Eu devia ter uns 10 anos quando me encantei por “Maria Maria”, “Nos bailes da vida”, “Coração de Estudante”. Fui da sala do cinema para a sala de aula em alguns minutos. O tempo passou para mim e para ele. E com certeza para você também.

 Do menino que foi reprovado na aula de canto ao artista que emocionou o mundo com o seu talento, sua alma, sua voz, Milton Bituca Nascimento nos toca profundamente ao falar de existência; de um modo de existir, sonhar, realizar que faz vibrar as cordas do coração. Do menino adotivo que acabou também adotando um filho, lá vai ele, nosso querido Bituca, nos confirmando que “todo amor que vem, é o amor que volta”.

 “A última sessão de música” já foi, e eu não fui. Coração partiu mais uma vez vendo partes do show na telona. Momentos foram feitos para serem vividos, Renata. Você não foi. Algumas coisas não voltam. Sinto muito.

 Como tudo na vida, há sempre um último dia, um último encontro, uma última vez. Que bom que Bituca foi homenageado em vida, ele merecia muito esse presente. (E nós também.) Que emoção ouvir sua história, sua voz, sua travessia imersa em poesia através do filme de Flávia Moraes. “De todas as certezas da vida, só os começos são definitivos: o primeiro beijo, o primeiro desejo, o primeiro verso que escrevi” - palavras de Milton nascendo no documentário de um jeito lindo, ritmado com o som do trem das nossas Minas, encontrando na sequência a voz da nossa querida e consagrada Fernanda Montenegro: “O que é uma despedida diante da imortalidade? O tempo é travesso, a vida travessia.”

 E o que fazemos do nosso tempo? Cantamos, aprendemos, envelhecemos, amamos, vamos ao cinema. (Uma das minhas grandes alegrias.) Fui te ver levando o meu “menino” comigo, Bituca. O menino que é seu fã e canta lindamente suas canções, abraçando a gente com a sua melodia, seus versos, sua emoção.

 Lá fomos nós, como se estivéssemos indo a um show seu. (E não é que foi?!). Eu vestindo o meu melhor sorriso e ele com a camisa que leva o seu rosto, presente de aniversário. Fizemos memória, deixamos o sábado mais bonito.

 Obrigada por tudo, e tanto. Te amo, Bituca.

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