
Viraram muitas páginas juntos, aqueles dois. Futuro do pretérito, fotossíntese, reações químicas, osmose, geometria.
Com o tempo se transformaram, se enamoraram, foram metamorfoseando amizade em amor, quase sem perceber.
A afinidade das salas de aula se estendia naturalmente para outros locus: nas festas juninas do clube, quando se adivinhavam no correio elegante; nas sessões de cinema, quando suas mãos se encontravam no saco de pipoca; no aconchego da sala de casa, quando eram acolhidos com alegria e pão de queijo pela família de cada um, despretensiosamente.
E foi assim, sem se darem conta, sem nomear ou protocolar o sentimento, que Diego foi entrando no mundo de Marina como se ele já fosse seu há muito tempo. E vice-versa.
Aos 14 anos, um primeiro beijo roubado na porta de casa trouxe muitos outros beijos presenteados, gratuitos, inventados. Corriqueiros, festeiros, juninos, sem data ou hora marcada. Sempre que a oportunidade fazia o convite, eles aceitavam de bom grado.
Aos 18 anos, a conquista da carteira de motorista e o carro emprestado do pai possibilitaram a Diego ampliar os convites. Aos 19, a vitória do vestibular trouxe mais motivos de comemoração, e eles sempre eram vistos saindo juntos e frequentando mais vezes a casa de cada um. Mais fornadas de pão de queijo e alegria, pipoca no escurinho do cinema, todos os motivos do mundo para carpediar a vida. Entre um encontro e outro, Diego e Marina se faziam presentes através do celular, com trocas de mensagens inspiradas em letras de música romântica.
Não eram namorados ainda. Ou melhor, não eram nomeados assim, nascidos que foram em uma era marcada pelo verbo ficar, desprendido de compromisso e vínculo. Mas foram ficando cada vez mais grudados, envolvidos, sintonizados, e numa chuvosa noite de março viraram namorado e namorada, oficialmente falando.
Com um ano e meio de namoro ele foi para o Canadá, em um intercâmbio de três meses. Marina, que já havia passado pela mesma experiência três anos antes, respeitou o momento dele e sugeriu que dessem um tempo. Ele aceitou.
Mas que tempo é esse que corre pelas vias do amor? Foi o tempo que passou devagar, doído de saudade, e que acabou mantendo os dois em contato, até presentes de Natal trocaram a distância.
Quando ele voltou, a sintonia tinha crescido e a convicção era uma só: não havia a menor dúvida de que eles queriam ficar juntos.
Seis meses depois, outro intercâmbio, dessa vez para Marina. Destino: Bordeaux, na França. Coração: doído, moído, como ficar longe dele por tanto tempo, sem nem direito a visita pra matar a saudade? Cabeça: madura, bem-resolvida, a dos dois. Como já haviam passado pela experiência do Canadá antes, se sentiam minimamente maduros para continuar o namoro, só que agora a distância.
Aguarde cenas do próximo post.
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