Renata Feldman

Renata Feldman

Psicóloga e Escritora

Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Greve de si

12 March, 2015

janela_fechada1

Ele cresceu mas continuou com medo de escuro.

Onde se lê “escuro” leia-se exame de rua, homossexualidade velada, entrevista de emprego, hipocondria.

E assim ele cresceu, enxergando monstros na maçaneta e fantasmas disfarçados de cortina.

Faz sol lá fora mas dentro dele neva. Berra.

Céu frio, nublado, concerto fúnebre, auge da hipotermia.

Tantos convites, coloridos cenários, dentro dele goteira: um fio de coragem desbotada.

Se ao menos pudesse voar. Visitar um outro planeta.

Se ao menos pudesse sonhar. Sonhar sem ter que acordar.

Se ao menos pudesse fazer contas de mais. Somar ao invés de subtrair sempre e tanto.

Se ao menos pudesse fazer de conta. (Conta pra ele que o mundo não é esse muro cinza que ele acreditou que fosse.)

Se ao menos pudesse ser ele mesmo. Nome, sobrenome, endereço, RG, uma paixão, um hobbie, uma identidade. Saudade?

Ele cresceu mas ainda não aposentou o menino que foi um dia nem o velho que certamente virá ao seu encontro.

Ele cresceu doído, incompreendido, versos fora de ordem, estranhamente fora de órbita.

Cancelou a agenda, fechou a janela, fez greve de si.

Compartilhar este post

Posts Relacionados

Carta à Clarice Lispectoremoção

Carta à Clarice Lispector

Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage

13 de out. de 2025Ler mais →
Foi-sevida

Foi-se

Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na

1 de set. de 2025Ler mais →
Estou aqui.cinema

Estou aqui.

Sim, eu sei. Perdi o timing. Me perdi em meio à minha emoção, à minha ação. (Acho que fiquei paralisada, fora do ar, sem palavras.) Aí a vida veio passando, outros filmes também, e aqui estou: atrasada feito o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde", mas aqui estou. Preciso ticar essa pendência. Check. Pode ser que você não leia, já tenha se saturado com o assunto, vou entender. Mas preciso escrever, a dívida é comigo mesma. E antes que você vá embora, te adianto um pequeno spoiler: o post

28 de jul. de 2025Ler mais →

Comentários

Seja o primeiro a comentar!