Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Fantasmas

02 May, 2016

fantasma

Eles estão por aí. Invisivelmente te rondando, te assustando, roubando o seu sono.

Fantasmas não existem, passou da hora de você desacreditar deles.

Existem sim. Sua criança morre de medo de revisitar os porões escuros da alma, onde traumas repousam em teias de aranha, memórias  vivem sendo desenterradas, ruídos estranhos arrombam o pensamento. Haja coragem para voltar lá.

A mulher; o homem que vive em você vira e mexe sente o suspiro frio de fantasmas que há muito jazem, em vão te invadem, já vão tarde. Buuuu.

Quando fui a Nova York conheci um fantasma de carne e osso que me deixou fascinada. Eu e algumas mais de 100 milhões de pessoas, coisinha à toa. Recorde de permanência na Broadway, O Fantasma da Ópera faz jus ao sucesso que faz há tanta tempo. Música, produção, figurino, orquestra, enredo, tudo para nos encher os olhos com uma história de amor lindíssima. Bravo, bravíssimo.

Resumo da ópera: Erik (o fantasma) ama Christine que ama Raoul que ama Christine. O duo de amor correspondido  vive no musical um idílio marcado pela clássica canção “All I Ask Of You”, muitos já se casaram com ela. Cumplicidade, liberdade, porto seguro, verdade e amor inteiro, é tudo o que um pede e reafirma para o outro. (Se existe receita de longevidade amorosa, anote essa.) Mas aí vem o fantasma, Erik, para promover um desvio de rota e levar a moça para as profundezas de um outro amor que atrai, seduz, encanta, inebria. Fantasmagoricamente falando.

Dividida entre o amor verdadeiro e o fascínio das brumas de Erik, a moça vai sendo gentilmente, amorosamente conduzida para a morte. Até conseguir fazer o corte e romper, coisa que muita gente não tem dado conta de fazer nos dias de hoje. “Acabou. (?)“, vai lá nesse post se quiser aprofundar o assunto.

Despertada pela vida, fazendo prevalecer o que realmente fazia força e sentido pra ela, Christine se despede de Erik com um beijo e em seguida um tapa na cara. Tomada por um choque de realidade, coloca um fim no que nunca poderia ser um começo.

Conheço algumas Christines que ainda não deram conta de fazer o mesmo. Não têm um Raoul pra contar a história (o que torna tudo mais difícil), mas têm um “amor-fantasma” pra viver. (Viver?) E assim elas se aprisionam, se arrastam para dias escuros sem coragem de encarar a claridade do fim. Precisam ouvir a música e se emocionar com ela: “No more talk of darkness, forget these wide-eyed fears; I’m here, nothing can harm you, my words will warm and calm you. Let me be your freedom, let daylight dry your tears; I’m here, with you, beside you, to guard you and to guide you.” Precisam, acima de tudo, ouvir a si mesmas e encontrar o amor que carregam. É ele, prioritariamente ele, esse amor genuíno e primeiro,  que nos liberta.

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