Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Filhos

Engano

23 May, 2013


Por engano dois bebês são trocados
logo após o nascimento.
Por engano, susto, pânico eles se misturam no refúgio,
nascidos que foram em meio ao bombardeio.
O menino israelense ganha o colo da mãe palestina.
O menino palestino ganha o colo da mãe judia.
Os meninos crescem, a verdade aparece
com a força de uma granada.
Apesar das diferenças tão abissais e gritantes,
os dois filhos se encontram.
As duas famílias se reúnem para jantar.
Os olhares se cruzam.
Os lábios entoam uma canção familiar.
As raízes se ampliam.
As fotografias falam.
A tocante ficção de “O Filho do Outro”
é vida real na história de algumas vidas.
Por engano se cometem erros,
desastres, equívocos sem fim.
Por pertencimento rompem-se barreiras,
desfazem-se mal-entendidos,
se desmancha um muro inteiro.
A sensação de pertencer a uma família, uma pátria,
uma barriga ou a um time de futebol
fica desde sempre registrada
na alma, no sangue, na carne.
Impressão digital, profundamente emocional,
que guerra nenhuma jamais apaga.

Compartilhar este post

Posts Relacionados

Doce alquimiavida

Doce alquimia

Incrível a doce alquimia da vida. O dom de transformar leite condensado em brigadeiro. Farinha de trigo em Challah. Espera prolongada em Beta hCG positivo. Colo em passos de dança. Semente em flor. Dia-a-dia em alegria. E assim a gente vai transformando picolé em palito premiado. Contos de fadas em "Friends", "Amor e gelato", "Gossip Girls". Escola em faculdade. Aconchego em saudade. Amor em história. História em continuidade. A gente vai virando a folhinha do calendário e percebendo que o tem

1 de nov. de 2025Ler mais →
Carta à Clarice Lispectoremoção

Carta à Clarice Lispector

Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage

13 de out. de 2025Ler mais →
Foi-sevida

Foi-se

Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na

1 de set. de 2025Ler mais →

Comentários

Seja o primeiro a comentar!