Quebro meu jejum de quase trinta dias
ao fim do Yom Kipur.
Jejum de palavras, rimas, versos, vírgulas.
Quase morro de inanição.
Sinagoga cheia (nunca vi tão cheia) no Dia do Perdão.
Cheia de raízes, netos, filhos.
Cheia de Deus, de mim, começo e sim.
Lindeza de gente reunida pelo perdão.
Pelas perdas que vieram antes dele.
Pelo coração deficitário de amor,
urgente de paz, infartado de dor.
E aí vem a reza, o canto, as velas acesas pelas crianças.
Vem a esperança de regar o que se deixou
erodir, esvaziar, ruir.
Vem a árvore da vida ligando o céu à terra,
num instante abençoado de luz.
Vem da alma a capacidade genuína de amar
mesmo aquilo que um dia foi erro,
tropeço, queda, distância.
Vem o jejum para lembrar o que falta.
Vem o perdão como banquete de amor.
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