Meu pai nunca ligou muito para essa história de Dia dos Pais. “Invenção do comércio, minha filha, bobagem.”
Outros momentos simples, por outro lado, sempre tiveram o maior valor pra ele. Como me ligar diariamente, três vezes no mínimo, fizesse chuva ou sol, para se fazer presente com um carinho que era sua marca registrada: “Bom dia, princesa; boa tarde, Renatinha; boa noite, minha querida.” Como me buscar na escola com um sorriso largo e o meu chocolate favorito, me ensinando cedo o sabor da felicidade; como brincar de esconde-esconde sem jamais me perder de vista; como me levar ao circo, ao clube e ao parque, colorindo de aquarela meus finais de semana; como me enviar flores quando veio a notícia da menarca; como me ajudar na matemática (“paciência, pai, não sou boa como você”), me buscar nas festas, me pegar dançando lento e falar até hoje no assunto.
Eu cresci como filha de pais separados, mas sempre tive o meu pai junto de mim, zero de distância e um afeto que propaganda nenhuma dá conta de traduzir. Aliás, aprendi mais tarde, em um curso de constelação familiar, que essa história de pais separados não existe. Quem se separa é o casal, homem————mulher; dentro do coração de um filho, os pais jamais se separam: seguem juntos, unidos, inteiros, em uma conexão de amor que abençoa e conduz. Pra vida toda.
E assim a gente segue: com WhatsApp de bom dia todo dia; telefone pra não perder o costume; pãozinho quente no domingo; pipoca com futebol; reza, abraços, fotografias, chocolatinhos, papos variados e papos-cabeça, risos (muitos risos). Além de pai do ano todos os anos, ele ainda levou o título de sogro excepcional e um avô que não tem explicação.
Você tem razão, pai. Um dia é pouco – muito pouco – pra gente comemorar tudo isso que “o comércio inventou”. Obrigada por existir na minha vida, e por cada presente especial que veio de você.
Feliz Dia dos Pais. (Feliz de mim.)
Compartilhar este post
Posts Relacionados
vidaDoce alquimia
Incrível a doce alquimia da vida. O dom de transformar leite condensado em brigadeiro. Farinha de trigo em Challah. Espera prolongada em Beta hCG positivo. Colo em passos de dança. Semente em flor. Dia-a-dia em alegria. E assim a gente vai transformando picolé em palito premiado. Contos de fadas em "Friends", "Amor e gelato", "Gossip Girls". Escola em faculdade. Aconchego em saudade. Amor em história. História em continuidade. A gente vai virando a folhinha do calendário e percebendo que o tem
emoçãoCarta à Clarice Lispector
Querida Clarice, Já se passaram alguns dias do nosso encontro no teatro. Queria ter escrito já no dia seguinte, transbordando que estava de emoção, mas o correr desenfreado do tempo fez com que os rascunhos acabassem guardados em uma gaveta do coração. Ah, como chorei: ao te ver, te ouvir, te sentir. Como foi bom te ver viva, vivíssima, através da belíssima atuação de Beth Goulart (tão linda, tão parecida fisicamente com você, impressionante!). Atriz e escritora se fundiram, pessoa e personage
vidaFoi-se
Agosto foi embora e eu nem vi. Vivi. Muito, intensamente, cada segundo desse mês que geralmente se mostra - se sente - tão longo, tão grande, exageradamente demorado. Cadê? Passou, fui, ui, o tempo está mesmo voando. (Ou fui eu que não parei.) Agosto dos ventos uivantes, gelados. Das notícias ruins para quem acredita em superstição. (Ou no próprio desenrolar dos fatos, é fato...) E também das notícias boas, assim é a vida, gente querida andou nascendo e soprando velas por aqui. Viva! E teve na
Comentários
Seja o primeiro a comentar!


